Lula às voltas com seus erros
EDITORIAL
O final de semana não deve ter sido dos melhores para o presidente Lula e seu entorno. Na última sexta-feira, 14, o Datafolha divulgou sua mais recente pesquisa na qual a avaliação positiva do governo caiu 11 pontos, despencando de 35 para 24%. Em linha com esse mau humor, a avaliação negativa (ruim ou péssima) também é recorde e subiu, no período, de 34% para 41%. Porém, como que tudo que esteja ruim possa piorar, desta vez o que chamou a atenção dos pesquisadores e analistas políticos é que essa queda se deu entre o próprio eleitorado cativo do presidente, composto por pessoas com renda mensal até dois salários-mínimos. Neste segmento a aprovação caiu de 44 para 29% e, para finalizar o estudo de maneira melancólica para o presidente, outra redução expressiva ocorreu entre os eleitores que declaram ter votado em Lula no segundo turno de 2022. Reportagem do jornal O Globo destaca que “a avaliação de que o governo é ótimo/bom caiu 20 pontos percentuais, chegando a 46%; já a percepção negativa quase dobrou nesse grupo, de 7% para 13%. A parcela que avalia o governo como regular, porém, foi a que mais cresceu, passando de 27% para 40%”. Várias perguntas podem ser feitas: há alguma surpresa nesses números? Lula está sem chances de tentar a reeleição? Isso é fruto da “falta de comunicação”? O partido do presidente pode ser responsabilizado também? Diante da imprevisibilidade de Donald Trump e iminentes mudanças na economia global, isso joga mais incertezas na recuperação da popularidade do presidente? Quanto a primeira dúvida, e talvez explique as demais, os números apenas refletem uma conjunção de fatores, e talvez o principal seja o encarecimento da alimentação. Se o presidente está perdendo apoiadores entre o seu eleitorado cativo, isso significa que a população sente mais acentuadamente a chamada carestia. Porque, se essa mesma população está empregada – os índices de desemprego estão baixos –, o problema é que, mesmo com salários, os trabalhadores passam dificuldades no supermercado. Daí a questão da multiplicação dos pães, ou melhor, das informações negativas relacionadas a esse ponto. O PT e o governo continuam sem saber como neutralizar as mídias digitais contrárias ao presidente, e água mole em pedra dura, já sabem. O sinal, para quem apoia o presidente, é preocupante, mas não irreversível. Mesmo se levarmos em conta que o Lula 3 está bem distante do Lula 1, quando a economia lhe favoreceu. Acompanhemos as próximas manobras; por enquanto, inverter essa tendência será uma tarefa e tanto.
Roberto Lucato
Crédito foto: Mariana Camargo, Agência Brasil