João Valdir, o Pequeno Notável

João Valdir, o Pequeno Notável

Ponto Um

Nos primeiros meses de 1996, ano em que perdi meu pai, transferi meu pequeno escritório para a Rua Boa Morte, pouco antes do cruzamento com a Duque de Caxias. Nele, cuidava de assuntos administrativos e cumpria algumas agendas, uma delas, pautada por minha secretária Cecília. Pouco antes das dez da manhã, certo dia, entrava em minha sala João Valdir de Moraes, na época um companheiro de imprensa que trazia consigo um pequeno livrinho. O Pequeno Notável, como era carinhosamente chamado por admiradores, queria que o ajudasse a captar anunciantes para editar uma espécie de guia de serviços. Naquele ano, meses antes, se fechava mais um ciclo da imprensa esportiva e conversa vai, conversa vem, João Valdir me convenceu a fazer algo maior, e melhor: montar uma equipe de esportes. Isso porque um grande amigo em comum, Reinaldo Bastelli, havia decidido parar com seu programa na TV Jornal. Poucas semanas depois nasceria a Segunda Esportiva, um dos programas de maior audiência de Limeira, do qual participaram, desde o início, Edmar Ferreira, João Ferraz, Roberto Martins e Cesar Roberto. João Valdir, membro cativo, havia acertado na mosca e curioso que, desde o início, ele revelaria seu dom artístico. Sim, artístico, e não apenas de um repórter esportivo, perfil que ele desenvolveu quando esteve enfronhado na apresentação – e direção – de grandes shows musicais. Não demorou muito para fortalecermos nossa equipe no rádio e a nossa amizade se tornou ainda mais sólida. Durante nossas jornadas esportivas, João Valdir e suas histórias aliviavam o cansaço das viagens, quando não, ele escolhia a trilha sonora. Uma vez, eu, ele e o Edmar fomos até Curitiba ouvindo um (sim, um) CD do Benito Di Paula. Enquanto isso, na TV, João Valdir começou a se destacar fazendo reportagens especiais, sempre com um toque de bom-humor, estivesse ele dirigindo karts ou carrinhos de rolimã. Pequenos problemas de saúde, entretanto, o afastaram dos programas, que aos poucos também desapareceram, mas uma coisa é  certa: convivemos durante bons anos sob muita intensidade, profissionalismo, respeito e admiração mútua. Sua partida abre uma lacuna temporal que não será preenchida, a não ser pelas memórias de tudo o que fizemos – e foi muito – durante esses bons tempos. Construindo seu próprio destino como ator principal, jamais como coadjuvante, o Pequeno Notável foi mesmo Notável, porém um Gigante, isso sim.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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