Incoerências do jornalismo
Uma das preocupações que sempre mantive à frente dos jornalistas mais jovens, quando iniciavam as suas carreiras, era apresentar-lhes um fundamento imprescindível para o exercício da profissão: coerência. Eram outros tempos, sem dúvida, nos quais a mídia impressa determinada o que era rosa e o que era azul, mas não deve tratar um leitor, ouvinte ou telespectador de bobo, algo que era possível na ocasião. Porque, assim como deve existir um purgatório, nos jornais existe a hora da manchete, momento no qual se determina qual o assunto mais importante. Meu companheiro de Farol de Limeira, José Antonio Encinas, era perito no assunto dado ao seu equilíbrio ao fazer suas pesquisas – a tal coerência, aqui. Mas observo agora alguns absurdos que merecem reflexões. Mais uma vez, o presidente Lula usou a exposição momentânea como presidente do Mercosul para fazer afagos à Venezuela. E mais uma vez teve seus gestos questionados pelos seus pares, entre os quais o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pol, que chegou a sugerir que o bloco definisse uma posição formal sobre Nicolas Maduro, o que não ocorreu. Lula também falou do regime de Daniel Ortega, incluindo até uma missão papal no meio da conversa; também não colou. Agora as perguntas: a primeira, porque a insistência do presidente brasileiro neste tema, controverso e próximo de regimes nada democráticos? A segunda: por que, entre os noticiários de ontem à noite até hoje pela manhã, quando os jornais detalharam suas notícias, houve um total silencio sobre estes fatos? A terceira: porque – e agora a comparação é inevitável – simples resmungos de Jair Bolsonaro eram tratados como teses de doutorado pela velha imprensa e agora, a defesa de uma ditadura, não ganha um mísero editorial? Particularmente não tenho o menor interesse sobre o que Lula pensa ou fala, porque não muda, mas me entristece o comportamento da imprensa incoerente que deixa os consumidores de informações ainda mais confusos e ressabiados. Perdemos todos, assim.