Impunidade, a nossa “mãe gentil”

Impunidade, a nossa “mãe gentil”

EDITORIAL

Recentemente uma pesquisa indicou a melhora de percepção dos brasileiros com seu próprio país. Salvo engano, mais de 70% dos entrevistados têm orgulho da nação, o que é uma péssima notícia, porque se conformaram. Explico. Me encaixo, obviamente, entre aqueles que não possuem a menor empatia por este gigante adormecido, por inúmeras e incontáveis razões. Primeiro porque os brasileiros são mal-educados, em todos os sentidos. Mal educados na escola e nas ruas, mal-educados porque se consideram mais espertos que os outros e assim referendam o bordão do “país do jeitinho”. O político brasileiro, então, nem se fale. É um enganador nato, um mentiroso de plantão e pior: é uma categoria hipócrita. Escreveria mais dezenas de linhas para justificar meu desapontamento com o Brasil, mas encerro com a mãe de todos os problemas: a impunidade. Ou, em sentido inverso, a punibilidade seletiva do Estado, capturando apenas os menos abastados ou as vítimas da própria “insignificância social”. Invisíveis e desvalidos, estas são as principais vítimas. Nossa Justiça está contaminada pela ideologia perversa, apontando seus olhos, sem vendas, a quem lhe pareça condenável. E, claro, do alto de privilégios tolerados pela mesma população que é punida pelo sistema. O último absurdo: Caio Silva de Souza, algoz de Santiago Andrade, o cinegrafista morto durante um protesto no Rio de Janeiro, em 2014, depois de ser atingido por um rojão, foi condenado a 12 anos de prisão em regime inicialmente fechado. Seu parceiro neste homicídio foi absolvido e a dúvida é a seguinte: não bastasse o hiato de quase dez anos para este julgamento, período no qual a família da vítima teve que se reconstruir e se reinventar, com corações menores e apertados, 12 anos, só isso? Em bom português, Caio Souza enfrentará as agruras de nosso sistema prisional por apenas dois ou três anos, no máximo, e voltará a andar nas ruas e frequentar festas juninas com rojões preparados em suas mãos. Pronto para, grotescamente, fazer novas vítimas de sua sádica inconsequência. Isso é justiça? Isso é um incentivo, logicamente, à impunidade. Os advogados da vítima falharam. O Ministério Público também, e tomara enxerguem o quanto foram dóceis em suas acusações. Gostar do Brasil? Jamais.

Roberto Lucato
Ilustração: Freepik

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