Impostos, sempre desperdiçados
EDITORIAL
As principais razões que explicam como é odioso pagar impostos no Brasil são essas: 1- o atendimento público, em regra, não é universalizado e é executado por servidores mal-humorados, que tratam os contribuintes como se não tivessem o direito de cobrar nada, só pagar ou se conformar; 2- nosso país é corrupto por natureza, não “bonito” como escreveu Benjjor, e não à toa sequer se aproxima das principais nações em rankings de “percepção de corrupção”; portanto, boa parte de tudo o que “recolhemos” possui o enorme risco de cair em bolsos particulares, não exatamente no erário; 3- os chamados serviços públicos gratuitos são meras pegadinhas; o custo de acesso ao Poder Judiciário, por exemplo, é altíssimo, em parte para sustentar imensas regalias de juízes e promotores, que estão no topo da pirâmide. Bem, existem mais outras dezenas de explicações, mas participei de um acontecimento que amarra outra situação: a exposição dos contribuintes ao risco de morte. Explico. Existem poucas opções de acesso ao litoral carioca pela Via Dutra. Uma delas começa no um município de Barra Mansa e termina a 10 quilômetros de Angra dos Reis, na BR 101. A outra se inicia em Guaratinguetá (em solo paulista) e acaba em Paraty, Rio, de onde escrevo este comentário. Essa serra é conhecida como Cunha-Paraty, antiga Estrada Real – de onde os portugueses escoavam o ouro de Minas Gerais. É um trecho de 90 quilômetros, dos quais os últimos 20 são terríveis. Há anos o governo do Rio não investe um centavo para tornar este recorte minimamente seguro, mas o que passei foi escandaloso. Em dado momento, descendo a serra, não bastasse a corredeira formada por uma forte chuva, não havia mais passagem para dois carros, um subindo, o outro descendo. O trânsito parou e imaginei que estivesse funcionando o esquema pare e siga, mas nada. Não havia ninguém controlando o fluxo e os veículos foram desbravando a pista como se aqueles que vinham em sentido contrário fossem inimigos. Inclua-se, neste drama, alguns pontos destinados a passagem de apenas um carro, e está feito o caos. Os cinco últimos governadores cariocas saíram do Palácio das Laranjeiras para a prisão, e diria, não à toa. Muitos já estão nas ruas, comprovando que o crime compensa, que roubar chega a ser normal e, finalmente, que pagar impostos é favorecer a esse sistema, e não ao Estado.
Roberto Lucato
Ilustração: Freepik