Hotel Nacional, presente e futuro
EDITORIAL
Reaberto há pouco menos de dez anos, o Hotel Nacional do Rio de Janeiro se transformou em um navio de cruzeiro. Em alto mar, os hóspedes não têm outra opção que não seja o consumo de bebidas e comidas na própria embarcação. Bebidas, em particular, apresentam custos proibitivos: um chope, por exemplo, chega a custar 6 dólares. Embora as refeições sejam incluídas no preço das passagens, existem os restaurantes temáticos: um filé “ancho” com batatas rústicas não sai por menos de 30 dólares. Quem se hospeda no “Nacional” também não possui muitas alternativas. A praia de São Conrado nunca teve restaurantes e boas lanchonetes em sua existência. A proximidade com a Rocinha explica essa característica: falta público para consumir os chamados pratos “gourmetizados”. Portanto, não resta aos seus hóspedes a própria infraestrutura dos restaurantes e bares do hotel. No 30º andar, por exemplo, fica o “Masi”, especializado em cozinha mediterrânea e japonesa. Pratos individuais custam, em média, 100 pratas, e não se consegue uma garrafa de vinho por menos de 200. Mas até aqui, vamos dizer, é o “preço da fama”. O problema é quando uma empresa que aparenta tanto volume e não oferece suporte correspondente ao hóspede. Por um descuido, minha esposa esqueceu seu cabide de roupas ao sair, e só descobrimos isso quando estávamos quase três horas distantes do Rio. Um rapaz prestativo que nos recepcionou na chegada, muito educado, mal respondeu aos meus pedidos de ajuda. Na verdade, descobriríamos depois, ele apenas agia na captação de possíveis investidores em um esquema de fidelização de estadias, algo que oportunamente detalharei. Enquanto nos atendia, disse que se deslocava de Caxias diariamente para trabalhar – muito longe dali – e que faria de tudo para nos bem servir, porque era “evangélico”. Enquanto estávamos na estrada, informando o ocorrido, ele se limitou a passar o contato da recepção, que também demorou horas para dar alguma satisfação. O “evangélico”, contatado novamente no dia posterior, sequer respondeu. Apenas na tarde da segunda-feira – isso ocorreu em um domingo – fomos informados que o cabide fora encontrado, e que estaria “à disposição para retirada entre 9 e 17 horas”. Não restava dúvidas: se solicitássemos serviço de remessa dos itens esquecidos, provavelmente eles não seriam enviados ou se perderiam por outras circunstâncias. Tivemos que voltar. Pedem-me, agora que avalie o Hotel Nacional. Se escrever tudo aquilo que penso, meu pai, lá do céu, talvez fique triste, não comigo, mas com aquilo que sobrou: falta de empatia, excesso de deselegância e mesquinharia. Ah, e alguns crentes que se julgam superiores em função da religião, não pelo que realmente fazem por seus irmãos. No caso, clientes.
Roberto Lucato