Homens e meninos
EDITORIAL
De uma maneira geral, o término do período eleitoral sacramentou alguns recados e expôs realidades que se manifestaram em vários pontos do Brasil. Uma das mais evidentes, exibida ainda no primeiro turno, teve a ver com o caixa recheado das prefeituras via emendas parlamentares. O dinheiro extra abasteceu o setor de obras de vários municípios, impulsionando o nível de satisfação dos eleitores e assim, candidatos à reeleição foram praticamente imbatíveis em seus redutos. O segundo aspecto se relacionou com o avanço da polarização ideológica, ainda que nem o presidente Lula, nem seu antecessor, Jair Bolsonaro, possam ser apontados como vitoriosos ou derrotados. Movimentos da direita, esses sim, demonstraram que seguem se comunicando melhor nas redes sociais, fato a ser considerado. E um terceiro e último ponto teve a ver com a influência do crime organizado nas campanhas. Para comprovar que isso esteve presente até o último dia da votação, o governador Tarcísio de Freitas surpreendeu a todos ao revelar que serviços de inteligência identificaram ordens dos criminosos para o voto em Guilherme Boulos. Em Limeira, o primeiro turno indicou que as surpresas, se houvessem, ficariam para segundo, uma vez que a candidata da situação, Érika Tank, teve um desempenho medíocre. O desempenho de Betinho Neves foi dentro do esperado, porém, o de seu adversário, Murilo Félix, foi acima do previsto. Uma diferença de dez mil votos não parecia uma montanha alta demais, mas os últimos dez dias revelaram que, enquanto Murilo seguia inabalável em sua postura propositiva, Betinho se afundava cada vez mais na tentativa de se desvencilhar das suspeitas de sua relação com o crime organizado. Se o tema ganhou projeção nacional, em Limeira não foi diferente. Para complicar a vida do vereador candidato, os apoios locais para Murilo chegaram mais cedo, em parte oriundos da candidatura imposta pelo prefeito, que agiu nas sombras quem sabe para quem sabe, não ser perseguido nos próximos quatro anos. E aqui se separam homens e meninos. Atrás de Murilo estava um ex-prefeito, especialista em compor acordos, enquanto faltou a Betinho um articulador mais preparado. E, pessoalmente, alguém que lhe dissesse que o “já ganhou”, na política, faz aumentar a soberba. Contribuiu para a negligência de análises porque era claro, por pesquisas e aferição do “clima”, que Murilo ganhou muita musculatura na reta de chegada. Enquanto o ex-deputado mantinha-se frio e inabalável, Betinho optou pelo “tudo ou nada” e perdeu uma enorme chance de se eleger. Muito por seus próprios erros, fundamentalmente, ao confundir assertividade por credibilidade. Murilo conquistou seu objetivo por errar menos e porque, politicamente, demonstrou mais preparo. Levou o Edifício Prada, legitimamente, por competência, humildade e conhecimento.
Roberto Lucato
Ilustração: Freepik