Gravidez, cada vez mais pensada

Gravidez, cada vez mais pensada

EDITORIAL
Durante a primeira metade do século passado acreditava-se que a quantidade de filhos de um casal, principalmente para quem trabalhava no campo, se relacionava com a expectativa de ajuda no trabalho. Aumento da renda, consequentemente. A polenta, um clássico da culinária italiana, não se popularizou à toa, uma vez que é relativamente fácil de se preparar e abastece muita gente. Paralelo a isso, a submissão feminina ao sistema patriarcal não abria espaço para o diálogo: o marido, e somente ele, determinava quando e como se davam os encontros íntimos com suas esposas. No final dos anos de 1960, porém, a popularização dos contraceptivos e a liberdade sexual abriram uma discussão que incomodou os mais conservadores. O salto tecnológico da virada do século, entretanto, trouxe mais acesso à informação, acelerando uma profunda transformação na vida laboral. As oportunidades de emprego se transformaram e muitas mulheres passaram a investir em suas próprias carreiras, postergando, mesmo quando ao lado de companheiros, a primeira gestação. Há um conjunto de explicações para a queda da taxa de fecundidade em todo o mundo, que começou mais cedo em países desenvolvidos e hoje se insere no chamado grupo “em desenvolvimento”. Essa queda do número de nascimentos, porém, tem preocupado algumas nações. A escassez de mão de obra promete se acentuar em todo o planeta, não à toa que a própria China, até pouco tempo dona de uma política pública que limitava o número de filhos por casal, hoje age de forma contrária. Agora é a vez do Japão. O governo acaba de lançar um aplicativo de namoro estatal para incentivar possíveis casamentos e filhos. A condição, como era de se esperar, é a seriedade dos pretendentes, que em caso de “match” poderão receber auxílios do governo, incluindo os seus dependentes. Quem diria como esse mundo é cheio de reviravoltas, mas me parece que o dilema de agora não passa apenas pelo simples fato de se conhecer alguém, mas como o objetivo das pessoas se alterou nas últimas décadas.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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