GCM: não bastam viaturas
EDITORIAL
No século XIX, ainda na época imperial, a Inglaterra pressionou o Brasil para promulgar leis contra a escravidão. Na verdade, essa medida não era bem-vista por nossos colonizadores, e o que aconteceu? Foram, então, publicados decretos neste sentido, mas, na prática, nada mudou na vida dos escravos. Por que? Ninguém cumpria as determinações, porque elas foram feitas “para inglês ver”. Aconteceu ontem algo assim nesta cidade. No melhor estilo “show de calouros”, Murilo Félix convocou todo o seu secretariado para uma sessão baba-ovo nos jardins do Edifício Prada. Havia tantos servidores comissionados que quase não couberam na foto, estrategicamente feita por um drone para registrar o motivo da reunião: a exibição de novas viaturas entregues à Guarda Civil Municipal. O setor de comunicação da prefeitura não economizou na classificação da cerimônia, chamando de “histórica”, mas um detalhe foi esquecido pelos jornalistas contratados pelo jovem prefeito. Ninguém tocou na notícia do furto de cabos que aconteceu em plena Praça Toledo Barros na noite anterior, o que tornou a noite ainda mais perigosa para as pessoas de bem – por outro lado, um alívio aos moradores de rua que emporcalham as calçadas da cidade dia após dia. Como a prefeitura não faz comunicação institucional, ou seja, não remunera empresas e profissionais que trabalham na área, a foto do cordão da bola preta ficou restrita à visualização dos servidores e vereadores presentes, que certamente divulgaram em suas redes sociais; foi um evento, portanto, para inglês ver. Mas a pergunta é: a cidade não deveria comemorar o reforço do aparelhamento da GCM? A resposta é não. Quando uma escola municipal é construída, e o mesmo vale para uma creche, à partir de sua inauguração o município contrai uma dívida eterna, vamos dizer assim, porque os prédios não funcionam sozinhos. É preciso contratar gente e custear as despesas para o atendimento público, e o mesmo raciocínio vale para as motos e viaturas para segurança recém entregues. A notícia, portanto, ficaria mais adequada se o garotão do Prada informasse que, em paralelo à entrega, foram montadas novas estratégias para o policiamento preventivo, por exemplo, para evitar furtos de cabos como aconteceram no centro da cidade. E, aproveitando, para informar que haverá verba suficiente para abastecer a nova frota, uma vez que se venda a ideia de restrições orçamentárias. Murilo continua olhando para o próprio umbigo, se esforçando para colocar em seu radar midiático a esposa Luciana, sua futura indicada a assembleia legislativa, mas isso é assunto para outro dia.
Roberto Lucato
Foto: PML