Francisco, cem anos em dez

Francisco, cem anos em dez

Quem participou – ou participa – com mais intensidade das comunidades religiosas sabe que, passado algum tempo, é inevitável a formação de pequenos grupos de influência. Alguns são mais ativos durante as celebrações, outros durante campanhas ou festas beneficentes, mas o fato é que, dentro deste ciclo, esta sensação de “pertencimento” pode às vezes atrapalhar. E assim o conservadorismo se mantém, as pessoas idem, e as tradições, ritos e costumes sequer são questionados ou, mais suavemente dizendo, compreendidos. Jesus Cristo, do ponto de vista histórico, foi um revolucionário de sua época, especialmente porque entre as regiões que frequentava, havia o predomínio das espadas. Suas armas, no entanto, eram manifestações de amor, fraternidade e súplicas de atendimento ao Pai. Sua igreja, edificada em seguida, passou por inúmeros abalos até hoje. De identidade, inclusive, e se entre pequenas comunidades é difícil mudar alguma coisa, imaginem como é se alterar um dogma secular? Um posicionamento. Uma liturgia. Os líderes da igreja católica, portanto, sempre terão pela frente este imenso desafio: melhorar essa comunicação universal com seus fiéis, ouvi-los e interpretar suas demandas, enquanto a sociedade se transforma velozmente. Tudo isso, é bom lembrar, sem abandonar os pilares deixados pelos apóstolos. Coincidentemente, há dez anos, estava em Buenos Aires exatamente nesta época, quando Mário Jorge Bergoglio tornou-se o Papa Francisco. Ao ler a notícia, publicada pelo Clarín, imediatamente comprei a edição e me dirigi, junto de minha esposa, à Catedral Metropolitana para orar pelo sumo pontífice. Observei que diversos fiéis tomaram a mesma atitude: quiseram estar onde o novo papa presidiu tantas celebrações. Minha esperança por dias melhores para a igreja católica não demorou a se concretizar, a começar de sua visita ao Brasil, rompendo tantos protocolos e tocando com naturalidade, em sua primeira entrevista a bordo de um avião, em temas espinhosos. Ao completar, esta semana, uma década de papado, Francisco foi lembrado por sua pequena revolução, também. Das investigações sobre o Banco do Vaticano, dos escândalos de pedofilia, passando por manifestações de acolhimento às comunidades homoafetivas até, mais recentemente, o celibato, tudo foi rigorosamente revisto pelo papa. Inclusive, os conflitos internacionais, mazelas e abusos tirânicos. Vida longa à Sua Santidade, à sua moderna visão social (chegou a dizer aos jovens que Maria foi uma “influenciadora” de Jesus) e, principalmente, à sua enorme contribuição ao mundo católico.

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