Fogo cruzado
A semana promete ser, mais uma vez, tumultuada para o governo Lula, pelo fato de confrontar, fora da Câmara dos Deputados, o presidente da casa, Arthur Lira. Pois só uma criança em fase de alfabetização acreditaria que a operação deflagrada pela Polícia Federal contra Luciano Cavalcante, assessor direto de Arthur Lira, foi mera coincidência. Vale a pena retroceder um pouco. Reeleito, o atual presidente deixou claro no discurso de sua posse o quanto prestigiaria seus colegas, retribuindo a votação recorde que obteve. Ou seja, os deputados renovaram um voto de confiança aquele que tratou Jair Bolsonaro como mero despachante de suas demandas, e que prometia fazer o mesmo, ou pior, com o presidente da ocasião. E por que tudo ocorreu tão rapidamente? Por uma falha infantil do próprio Lula que, ao priorizar a agenda internacional e declinar das negociações, delegou esta tarefa a interlocutores com poderes limitados pelo próprio presidente. Falha que se repete agora, quando atinge Cavalcante, o qual supostamente guardava a quantia de quatro milhões de reais em espécie, fruto de desvios na compra de kits de robótica. No final de semana, circulava no noticiário matinal que Lira teria ”espumado de raiva” diante da Operação Hefesto, o que não é de se duvidar. Afinal, ele passou a última sexta-feira falando com advogados e até com o ministro da Justiça, Flávio Dino, em busca das digitais do governo. Lula, isso é bastante claro, faz uma administração revanchista, desde as reiteradas críticas dirigidas ao seu antecessor, até sua declaração do pretende fazer com o senador Sérgio Moro, o qual disse estar por trás de uma espécie de auto-atentado. Não é se duvidar, portanto, que Dino tenha solicitado os bons préstimos da PF contra Lira neste momento de fogo cruzado. O que vem por aí? Diante da força parlamentar do alagoano, é certo prever novas derrotas ao governo na Câmara dos Deputados, e só não dá para prever como – e quando – isso terá fim. Enquanto isso, à espera de uma indicação para o STF, o solícito presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, assiste de camarote.
Foto: Marcelo Camargo – AB