Fé cega, faca amolada
Ponto Um
No distante ano de 2001, Milton Nascimento fez sucesso no Rock In Rio cantando, entre seus muitos sucessos, Fé Cega, Faca Amolada. Na verdade, trata-se de uma letra mais melodiosa que profunda, mas do ponto de vista do seu significado, encontrei este resumo na internet: “a fé tem que ser cega mesmo porque envolve um pulo no escuro, no inabitável, no duvidoso. Se a fé for amolada, ela deixa de conter nela própria o inexplicável. Ela agiria racionalmente, cortaria seco, seria previsível. A faca precisa ser amolada, mas a fé nunca”. Bacana, não é? Pois bem. Honestamente me considero uma pessoa religiosa, “espiritualizada” como diz meu amigo Pedrinho Kuhl, mas não sou nenhum bom exemplo de “pessoa da fé”. Por uma série de razões, meus últimos cinco anos foram terríveis comparados aos cinco anteriores. Porém, nunca desisti de tentar construir dias melhores, mas, inegavelmente foi mais uma questão de necessidade do que de fé. Tentarei explicar de maneira objetiva: percebo as graças que recebo de Deus, a maior parte formada por acontecimentos inesperados. Algumas dessas bênçãos foram pedidas, é óbvio, mas não tenho fé que aconteçam, porque se não dependerem de meus esforços, dependerão da intervenção divina, e quem sou eu na fila do pão celestial? Outro exemplo. Nestes últimos anos, conheci mais profundamente um lado obscuro de diversas pessoas, algumas que nunca me enganaram, outras que fizeram isso muito bem. Algumas que sempre foram nojentas como seres humanos; outras que são insignificantes para o mundo ou para esta cidade e mais algumas, que adoram se enfastiar com suas riquezas e suas capacidades de comer, beber, engordar e dormir. Alguns desses tipos têm fé em que? Precisam ter fé? Precisam de Deus? Ou só se lembram Dele quando adoecem e não dá tempo de fazer uma consulta em São Paulo, onde estão os melhores médicos? Por essas e outras situações tenho envelhecido um tanto mais cético, e profundamente atento para mudar de calçada quando algum desses personagens surgir em minha frente. Mas reconheço: perder a fé não é nada bom, mas ajudaria no caso da “fé cega”. Durante a semana, a imprensa revelou que dezenas de pessoas foram enganadas por “cripto pastores” e perderam muito dinheiro. Um dia retorno a este assunto, mas por enquanto, como a bebida, a fé pede moderação.