Falar demais dá nisso
A empolgação é típica da juventude, até porque desfrutamos de vigor físico e, em teoria, os horizontes são inevitavelmente um convite às descobertas. Época também na qual podemos errar, pois haverá tempo para ajustes e consertos, mas à medida que o tempo passa, níveis glicêmicos e taxas de colesterol dentro da média são mais comemorados. Porque, sabem como é, a empolgação de um final de semana pode repercutir mal, e assim acontece com nossos pensamentos e manifestações. Quando jovens não pensamos duas vezes; mais velhos, ouvimos, primeiro. O presidente Lula é uma mistura destas duas situações. Sua disposição física para desaparecer de Brasília a cada quinze dias é invejável, sem dúvida. O casamento foi um componente motivador e o terceiro mandato, a cereja do bolo. Mas ele continua utilizando uma técnica que, no passado, arrancava aplausos dos companheiros do ABC: despejar números e situações sem comprovações. Isso era fácil quando não havia buscadores na internet, nos quais podemos confrontar contextualizações quase em tempo real, mas o mundo mudou. Um discurso pode ser desmentido ao mesmo tempo em que é feito. Lula mantém sua inegável capacidade de expressão, mas têm cometido atos falhos com bastante frequência, o que não é perdoado pelos opositores. Primeiro ele trocou mil por milhões para quantificar os brasileiros mortos pela Covid-19. Mais recentemente disse que o programa “Minha Casa, Minha Vida” construiria, até o final de seu mandato, mais de 180 milhões de casas, o que seria suficiente para ofertar uma delas a cada habitante do Brasil, segundo o Censo. Entre seus tropeços, somem-se embaraços internacionais como estender tapete vermelho ao ditador Nicolás Maduro e fazer de conta que não viu o presidente da Ucrânia durante encontro internacional, mas agora ele se superou. Ao retornar da Bélgica, durante período de abastecimento de sua aeronave, ele aproveitou para se encontrar com o presidente de Cabo Verde, José Maria Naves. Ele tanto quis caprichar em sua saudação que a fez de improviso, encerrando com esta pequena “reconstrução” histórica: “A nossa cultura, a nossa cor, o nosso tamanho, é resultado da miscinegação de índios, negros e europeus. E nós temos uma profunda gratidão ao continente africano por tudo o que foi produzido durante 350 anos de escravidão no nosso país”. Ah, saudades da imprensa implacável do passado. Em breve, Lula dará bom dia a um cavalo. É só esperar.
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