Em busca de bebês

Em busca de bebês

EDITORIAL

O governo chinês anunciou na semana passada a redução da taxa de fertilidade de sua população. É bom lembrar que décadas atrás, a mesma China praticamente exigiu o limite de um filho por casal, e agora a situação de inverteu. E por que isso pode significar um problema? Já entraremos no assunto, mas citemos outro exemplo. A Austrália, com a preocupação de aumentar a sua população local, promoveu no início do século uma série de ações para estimular os casais a terem mais filhos, oferecendo benefícios financeiros, entre outros, para o cumprimento das metas. Depois de alguns anos verificou-se que os resultados não foram alcançados, o mesmo acontecendo em nações europeias com preocupações semelhantes. Onde estava o erro? A tendência internacional de recuo demográfico se deve, fundamentalmente, à questão financeira. Colocar uma criança no mundo, além de impor aos pais imensas responsabilidades, é algo custoso e que, em algumas situações, sem suportes adequados, acaba afastando pais ou mães, provisória ou definitivamente, do mercado de trabalho. Ou seja, há riscos de diminuição de renda para todos, sem contar as limitações de tempo impostas aos responsáveis. Vamos ao problema. Com os avanços da medicina, hoje não apenas o Velho Continente possui uma pirâmide demográfica com seu vértice para baixo. Cada vez mais a população é mais longeva, permanecendo um tempo maior sob o guarda-chuva da aposentadoria. Para complicar, um número cada vez menor de jovens demora para ter acesso ao mercado de trabalho, e a escassez de mão de obra não está mais seletiva, mas generalizada. Portanto a China imagina que, em poucas décadas, haverá menos gente para o seu mercado fabril, principalmente. Menos pessoas para empacotar produtos, operar empilhadeiras e computadores pessoais. Países menos desenvolvidos como o Brasil demorarão mais a sentir este problema, mas, igualmente caminham a passos largos rumo ao estrangulamento social via aposentadorias. Menos gente trabalhando, menos gente contribuindo para sustentar os programas sociais. Há um lado ótimo em tudo isso: trazer alguém ao mundo sempre exigirá muitas reflexões, econômicas e principalmente emocionais; deve ser, sempre, uma decisão conjugal, algo que nem sempre foi.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

Compartilhar esta postagem