Dúvida injustificada?

Dúvida injustificada?

Sábado passado minha esposa recebeu uma amiga para lhe entregar alguns objetos e, por acaso, participei por alguns minutos da conversa. Ela é uma pequena empresária do setor de confeitaria e reclamávamos, os três, sobre a economia ainda cambaleante em nosso país. Em um dado momento, ao criticar o presidente Lula, ela comentou porque começou a apoiar o seu antecessor. Nas últimas eleições municipais, por razões particulares, ela e seu marido se engajaram em torno de uma candidatura à Câmara Municipal. O candidato, segundo nos falou, era uma pessoa simples, honesta e trabalhadora, e assim prosseguiram ajudando até o dia da votação. Os números não foram favoráveis a ele, mas um ponto chamou a atenção, quando o candidato indagou ao casal sobre as seções nas quais votaram. Para surpresa de todos, constatou-se que nas duas escolas para as quais eles se dirigiram – marido e mulher votam em lugares distintos – o candidato em questão não obteve nenhum voto nas urnas apontadas por eles. A mulher fez questão de nos dizer que sua escolha foi recepcionada pela urna eletrônica, que apareceu a foto do candidato e que aguardou até o barulhinho para concluir o seu voto. Ou seja, não havia como não aparecer a sua escolha no conhecido mapa de urna. “A partir daquele dia – nos revelou –, vimos que o Bolsonaro tinha razão em duvidar do processo eleitoral”. Sim, o assunto é antigo, batido, mas para nós aconteceu na semana passada, e isso me fez lembrar uma obviedade. Ninguém desconsidera os excessos praticados por Jair Bolsonaro contra as autoridades eleitorais. Como cidadão e principalmente como presidente, ele tinha o dever de denunciar suas dúvidas, de promover a discussão, e foi, como dizemos, voto vencido. Agora, por duvidar do processo eleitoral, e talvez pelo conjunto da obra, ele está prestes a perder seus direitos políticos, pelo mesmo sistema eleitoral sobre o qual despejou seus temores. Por ironia do destino, porém, afastá-lo agora poderá torná-lo ainda maior do ponto de vista eleitoral, tamanho que o presidente Lula manteve mesmo quando preso. Lula continuou interferindo no imaginário do eleitor, e o mesmo acontecerá com Bolsonaro, que já provou ser um cabo eleitoral dos mais competentes.

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