Duas décadas de mudanças

Duas décadas de mudanças

Ponto Um

O escritor Augusto Cury, autor de clássicos sobre psicanálise, neurociência e interpretações sobre a história de Jesus Cristo, mantém alguns chavões cravados em suas obras. Um deles é considerar que o ser humano é ”psico adaptável”, o que o torna resiliente para enfrentar adversidades e mudar sempre que necessário. A tecnologia, inegavelmente, impôs uma velocidade incomparável no curso da história humana, ao democratizar o acesso ao conhecimento e disponibilizar, em diferentes níveis, instrumentos e dispositivos capazes de nos transportar ao passado, conectar o presente e imaginar o futuro. De vez em quando, por exemplo, digito estrofes de canções antigas no Google e rapidamente aparecem inúmeras sugestões. Fico surpreso porque minhas pesquisas são bastante nostálgicas: na semana passada quis ouvir uma canção eternizada por Francisco Alves e lá apareceu “A Voz do Violão”, cantada pelo próprio. Mais adiante quis reviver algumas gravações de Jamelão, entre elas minha predileta, Êta Dor de Cotovelo. Em dois segundos apareceu na tela do celular a imagem do maior intérprete da Estação Primeira da Mangueira, e assim sigo recordando algumas fases da vida. Porém, o uso da tecnologia pode se transformar em vício. Prestes a completar 20 anos neste domingo, o Facebook possui uma trajetória que se confunde com a própria internet. Desde então, “ao crescer e comprar rivais, como Instagram e Whatsapp, a empresa fundada por Mark Zuckerberg foi determinante para uma nova maneira de relacionamento interpessoal, criando uma geração viciada em likes. Ele mudou os negócios, inaugurou a economia dos influencers, afetou a política, colocou em xeque a privacidade de seus usuários e levantou questões sobre desinformação”, avaliou o jornal O Globo. Mas não foi só isso. Ao mesmo tempo que abriu novas oportunidades empresariais, a empresa de Zuckerberg destruiu outros tantos, e os tais “likes” passaram a medir a importância de pessoas e organizações. Os mais jovens que caíram nesta armadilha dificilmente sairão dela e, como escrevemos na semana passada, muitos continuarão ridículos perseguindo fama e dinheiro. Podem ter, no futuro, seu passado registrado e disponível, mas lhes faltarão ícones e referências que a história comum nos oferece ao longo da vida. No fundo, os “likes” que mais nos interessam são feitos pelas pessoas que amamos, e é isso o que importa de verdade. 

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

 

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