Do Vô Lucato à Torre Eiffel
NA GRANDE ÁREA
QUANDO Limeira ganhou a votação para receber uma edição dos Jogos Regionais e os organizou em 2004, lembra-me o amigo Adimir Nogueira, houve um esforço razoável para adaptar suas praças esportivas. Por um lado, isso sinalizou a esperança de tempos melhores, uma vez que os limeirenses só se lembravam dos Jogos devido às conquistas na malha e dos “estrangeiros”, atletas contratados de fora especialmente nos governos Jurandyr Paixão.
MEU SAUDOSO e querido amigo Antonino Alcântara Teixeira Martins presidiu o nosso Comitê, com o suporte dos também amigos Osmar Bacan e Adimir Nogueira. Mas tivemos que “importar” alguém: o professor Vitor Buragas, que viria a me auxiliar na secretaria de Esportes anos mais tarde. Um sujeito extraordinário.
OS INVESTIMENTOS foram suficientes para a adaptação de nossas quadras, fazer melhorias nas piscinas e, no caso específico do Ginásio Vô Lucato, diminuir as frequentes goteiras, pesadelo que roubaria o sono de atletas e aficionados do basquete.
PARTICIPANDO deste Comitê, aprendi as primeiras lições sobre Jogos Regionais, inspirados obviamente nas Olimpíadas, especialmente protocolares. Na cerimônia de abertura, por exemplo, os atos obrigatórios são a apresentação das delegações, o juramento dos atletas, a declaração de abertura e o acendimento da “pira”.
POR ISSO o presidente francês, Emmanoel Macron, disse apenas “declaro aberto os Jogos de Paris” e ponto final. Se existem duas coisas que esportistas detestam são discursos e políticos, mas voltando ao “legado” dos jogos disputados em Limeira: em minha modesta avaliação, muito tímido.
OS PREFEITOS que comandaram Limeira mais recentemente, encerrada a alternância entre Paixão e D’Andrea, tiveram que conviver com as limitações orçamentárias previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal, impondo às pastas de Cultura e Esportes as migalhas de sempre. Nossas associações esportivas, portanto, sofrem até hoje o impacto desta dura realidade.
DO PONTO de vista estrutural, hoje em dia, as únicas novidades foram a conclusão de um antigo projeto, que transformou uma chácara em um excepcional complexo esportivo, e a instalação de gramado sintético e iluminação na praça de esportes João Ferraz, no Jardim São Paulo. A próxima, se ninguém atrapalhar depois das eleições, será a conclusão da reforma do complexo aquático Alberto Savoy.
ESTAMOS falando dos últimos vinte anos, portanto, isso é pouco ou quase nada. Porém, como a esperança é a última, quem sabe o desempenho mais favorável do comitê brasileiro nos Jogos de Paris motive, ao menos, os sedentários a se exercitar, e as crianças a compreenderem que existem outras modalidades além do futebol em nosso país.
VALE LEMBRAR, Limeira disputa atualmente os Jogos Regionais de Bragança Paulista, dos quais também participei como secretário faz muito tempo. Não fosse a experiência do querido amigo Cal Albertini comandando a cozinha de nossas instalações, nossos atletas passariam fome. Com o prefeito quer tínhamos, à época, carregando centenas de escorpiões no bolso, conseguir um saco de arroz era uma epopeia.
QUANTO à abertura de Paris 2024, minhas expectativas foram superadas. As lembranças históricas, culturais e esportivas que temos da França foram devidamente registradas, inclusive o Can Can, e vale lembrar que a cerimônia de abertura foi produzida para a TV, não exatamente para os espectadores. Por isso o Zidane parecia mais um agente 007 do que um atleta.
COMO vivemos tempos de conflagrações ideológicas, uma minoria seguirá defendendo a “brasilidade” dos uniformes de nossa delegação, argumentando que há preconceitos contra os bordados porque foram confeccionados no Nordeste. Mas, cá entre nós, o jeans foi inventado no Brasil? Colocar atletas com chinelos no interior de uma embarcação foi minimamente prudente? E a tal da onça bordada, representa o Brasil ou o Pantanal, apenas?
UNIFORME ridículo, comparável a única bola fora da cerimônia: interpretar a Santa Ceia com representantes da comunidade LGBT. Nada contra a exalação das diferenças, mas essa ideia não deve se sobrepor às crenças, e não pode ser ofensiva somente para “causar”. O França tem origens fortemente ligadas com a igreja católica, tanto é que, no passado, quando existiam dois papas, um deles morava em solo francês.
DESEMPENHO brasileiro, como sempre, será discreto, como somos no dia a dia em qualquer outra modalidade que não seja o futebol. Semana que vem pretendo abordar as possíveis explicações. Ótimo domingo, amigos!
Roberto Lucato
Ilustração: Wikipedia