Diretórios municipais vendem ilusões

Diretórios municipais vendem ilusões

EDITORIAL

O show de ilusionismo proporcionado pelos presidentes de diretórios políticos, em ano de eleições municipais, causa um verdadeiro frisson aos menos experientes nesta área. Por isso toda a cautela é necessária para não ceder às tentações desses encantadores de serpentes. Um desses, por exemplo – e vejam que história curiosa –, foi ligeiro ao registrar a filiação de uma mulher, à quem se dirigiu como “uma honra” tê-la em suas fileiras. O problema é que depois de assinada a ficha, ele sequer deu um telefonema a essa pessoa, tampouco trocou uma mísera mensagem por WhatsApp para convidá-la a registrar a sua pré-candidatura. E, para coroar tamanha incompetência, também não informou a data da convenção de seu partido, nada. Isso deixa claro que lhe agradou apenas o fato de ter mais uma mulher em sua sigla, facilitando o preenchimento de sua cota. É evidente que isso a decepcionou muito e, ao contrário de somar uma apoiadora, ele conseguiu desconstruir sua imagem que estava em plena gestação. Por isso não cansamos de deixar alertas nestas mal traçadas linhas: uma fatia dos quase 5 bilhões de Reais do fundo eleitoral é semelhante ao oxigênio:  todos sabem que existe, mas ninguém vê. Porque esses recursos ficam em Brasília e circulam apenas entre os presidentes de partidos e às pessoas de suas confianças. No máximo parte desses recursos chega às capitais e a algumas cidades com maior densidade populacional, daí à necessidade dos encantadores de serpente, os chefões dos diretórios. Eles cumprem o papel de seduzir pessoas de bem para o ingresso na vida pública, porém, como no exemplo em questão, não estão nem aí. Se bobear eles entregarão baldes e rodinhos para a limpeza dos escritórios políticos a esses pré-candidatos, porque tudo o que puderem fazer para gerenciar alguma verba que venham a receber em proveito próprio – milagres, às vezes, existem –, o farão. Talvez lá adiante, na semana das eleições, consigam entregar pacotes de santinhos impressos como “satisfação”, e isso não ajuda em nada a melhoria do processo político. Como, em paralelo a essa questão, o perdão das multas pelo preenchimento incorreto das vagas obrigatórias. Ou seja, como normalmente os presidentes de diretórios são pessoas já realizadas profissional e financeiramente em muitos casos, eles sobrevivem de status e da loteria eleitoral, caso algum candidato majoritário vença para a cobrança de um apoio que nunca existiu. E enquanto isso acontecer, quadros que poderiam contribuir para a melhoria do processo permanecerão no conforto de suas casas, e amanhã comentaremos um fato que bem explica tal situação.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

Compartilhar esta postagem