Diplomacia em tempos diferentes
EDITORIAL
Escrevi, na semana passada, que fazer comparações de jogadores atuais com atletas do passado é um tanto cruel. O esporte é o mesmo, é claro, mas evoluções, em qualquer setor da vida, são constantes e inevitáveis. Antigamente, um jogador de futebol corria em média 4 ou 5 quilômetros por jogo; hoje chega a 10! Por isso entre os comentários que li e ouvi sobre a morte de Henry Kissinger, da noite de quarta-feira até a tarde de ontem, Luca Bassani, jovem correspondente internacional da Jovem Pan, fez as melhores observações. Ele lembrou que, na Europa, tem sido comum a revisitação de figuras históricas de tempos em tempos, citando como exemplo o “reenquadramento” de Winston Churchill na Inglaterra. Kissinger recebeu todo o tipo de análise, uma bem forte, dizendo que ele “conseguiu fazer o que fez sem enfrentar a prisão”. No entanto, seus feitos diplomáticos parecem ter lhe conferido mais vitórias que derrotas, ainda que o associem a massacres na Ásia. Porém, lembrou Bassani, é preciso analisá-lo dentro de um contexto de época, histórico. A China, por exemplo, foi um dos primeiros a lamentar sua morte, referindo-se a “um velho amigo”. Certamente porque, no auge da Guerra Fria, ele foi provavelmente o mais importante personagem a entrelaçar esse país com o seu, os Estados Unidos. Se considerarmos que o alcance de armas nucleares, na época, provocou uma verdadeira escalada, e que as maiores nações planetárias não hesitariam em destruir seus inimigos, vinte anos depois do fim da Segunda Guerra, evitar o confronto teve um enorme peso na vida da terra como a conhecemos hoje. Kissinger, também é bom lembrar, foi o que poderíamos classificar como um “diplomata militante”, sem a discrição que normalmente se encontra em ocupantes destes cargos. Infelizmente, se o mundo não vive um único dia sem algum conflito bélico, exigir que ele fosse um pacifista, também, seria um exagero. Interesses requerem negociações, que às vezes saltam para os campos de batalha, são efeitos colaterais. Quanto às críticas ao apoio às ditaduras de republiquetas da América Latina, incluindo o Brasil, foi uma posição de estado contra o comunismo, aquele que “comia criancinhas”. Afastá-lo da América Latina era o grande objetivo, fato que sempre será lembrado – e criticado – pela velha esquerda. Ele construiu uma grande história, dessas que não veremos mais.