Desentendimento ou agressão?

Desentendimento ou agressão?

EDITORIAL
Os programas de variedades, logo nas primeiras horas da tarde deste último domingo, apresentaram como pauta principal o “desentendimento” entre Ana Hickmann e marido, assunto que ganhou maiores proporções até agora. Em um deles, coincidência ou não, estavam presentes uma delegada de polícia e uma promotora pública, que não somente repercutiram as consequências jurídicas da agressão sofrida, como elogiaram o comportamento da modelo e apresentadora. Denunciar a agressão, concordaram, pode ser um momento difícil, mas é “libertador”, e acrescentaram: “quando chega esse ponto é quase certo que outras ocorrências aconteceram, que não foram devidamente denunciadas”. Minha esposa, que acabara de chegar de viagem, se interessou pelo recente “barraco”, até então por ela desconhecido, dizendo que Alexandre Correa, marido de Ana, tinha fama de brutamontes, e que não seria nenhuma novidade se um dia ele chegasse às vias de fato. Falando ao portal UOL, ontem, o empresário admitiu ter mentido em sua manifestação inicial, minimizando o ocorrido, e que até aquele momento não se conformava com a, digamos, burrada que havia cometido. Nem um filão, pela manhã, ele conseguiu comprar, sendo hostilizado na fila por uma senhora que lhe endereçou uma sonora “descompostura”. Voltemos ao aspecto “libertador”, apenas, porque este é um assunto que merece ser analisado por diversos ângulos. A violência contra a mulher é um dos maiores gestos de covardia que um homem pode cometer, em especial quando se coloca na condição de “provedor”. E, tendo como premissa que a violência psicológica antecede a física, “libertação” é colocar nas mãos da Justiça uma agressão que, para tal, existe a proteção. E aqui existe um problema. Romper o lacre da violência para expô-la às autoridades, e no caso de Ana, para a opinião pública, é singular e expõe cicatrizes, emocionais e físicas eventualmente. Ninguém gosta de lamber suas feridas em público, portanto, se trata de um gesto de altíssimo senso de coragem. As consequências sentimentais, cada envolvido terá de suportar, mas quanto aos casos semelhantes, que infelizmente não param de acontecer, isso só demonstra o quando ainda estamos distantes, como sociedade, de um regramento mais severo e assertivo contra esses criminosos.

Ilustração: Freepik

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