Cultura e lazer: crise anunciada

Cultura e lazer: crise anunciada

EDITORIAL

Ainda moço, iniciei minha carreira jornalística escrevendo sobre eventos de fim de semana. Na idade da pedra de comunicação, divulgar dicas gastronômicas e aquilo que os clubes sociais preparavam era relevante. E o jornal impresso era o melhor meio para fazer comparações e determinar um programa, a dois ou familiar. Era tão grande o número de leitores que, quando publicávamos algo especial de um determinado restaurante, a formação de filas em suas portas de entrada era inevitável. Isso se dava por dois aspectos: havia um grande número de leitores e a crença naquilo que era publicado. Quando começava a fazer sucesso o até hoje conhecido filé à Malvinas, pouco tempo depois que a Argentina foi derrotada pelos ingleses, bastava um restaurante anunciá-lo para encher os bolsos. Funcionava assim com os clubes sociais também, na época vivendo o seu apogeu. Em um tempo no qual eventos musicais não passavam da meia-noite – hoje, infelizmente, esse é o horário de início –, era comum a organização de bailes ou “jantares musicais”; para os mais novos, o que hoje se conhece como “balada”, naquele tempo se organizavam “boates”, “dancing night” ou “disco club”. Basicamente, neste início dos anos 1980, a MPB estava em alta, consagrando artistas que hoje celebram oitenta anos de vida enquanto, em paralelo, a irresistível influência do filme “Os Embalos de Sábado à Noite!” apresentou uma nova maneira de dançar. Os meninos queriam ser John Travolta; as meninas, Karen Gordney. Dois cinemas e meio existiam na cidade; um, na praça Adão Duarte, decadente ao extremo; outro, na Boa Vista, especializado em cine pornô. O “frequentável” era o Cine Vitória, também em declínio, o que o fez ter o destino de teatro no final do século passado. Em meio a tudo isso, restava ao poder público organizar uma agenda cultural diferenciada, principalmente voltada para exposições e feiras. Limeira sempre teve o problema de não construir, como deveria ter feito, um espaço destinado receber de tudo um pouco e, esta cidade, marcada como a terra da improvisação, tem hoje no Parque da Cidade uma área “multiuso”. De um tempo em que só havia o Zelão Churrascaria e a Bolognesa como referências gastronômicas, hoje nota-se uma grande evolução. Os clubes, infelizmente, declinaram por várias razões, e só não estão mais vazios, no caso Gran São João e Nosso Clube, pela exuberância de suas piscinas e pelo baixo custo de suas academias de ginásticas. E quanto à programação teatral? E quanto às responsabilidades da secretaria de Cultura como promotor de eventos e indutor artístico? Trataremos disso no comentário de amanhã, porque um parágrafo é pouco para descrever a penúria atual.

Roberto Lucato – Ilustração: Freepik

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