Crescei-vos e multiplicai-vos 

Crescei-vos e multiplicai-vos 

Ponto Um

Ainda era estudante do colegial quando aprendi o que era uma “pirâmide etária”. Faz tempo isso, mas bons professores transmitem conhecimentos duradouros, e assim me lembro exatamente a diferença entre os cenários brasileiro e europeu. A nossa era semelhante a uma construção egípcia: com base larga e extremo pontiagudo. A europeia era uma tanto gorducha, indicando que o maior estrato da população se concentrava em pessoas com idades variando entre 25 e 55 anos. Ou seja, diferente do Brasil, no Velho Continente os jovens não eram maioria. Com um pouco de sorte e alguns exercícios físicos, vejo agora que os velhos mestres tinham razão: um dia, diziam, chegaremos a ter uma pirâmide igual à deles. A questão é que na época, falar de controle de natalidade era quase dizer um palavrão, dado a posições religiosas desfavoráveis à métodos contraceptivos. Mas o mundo evoluiu, as religiões exercem menos influência e outros fatores foram somados à diminuição das taxas de nascimentos, agora registradas pelo IBGE. Um deles tem chamado minha atenção faz algum tempo: a renúncia. Uma enorme reportagem exibida faz alguns meses entrevistou mulheres que simplesmente decidiram não ter filhos, mesmo mantendo relacionamentos estáveis e, muitas delas, com totais condições financeiras para criá-los. Mais recentemente foram os homens dizendo o mesmo, mas a pergunta de um milhão segue sem resposta: por que? Não existe explicação única, mas um conjunto delas. Por exemplo, as mulheres estão adiando cada vez mais a gradivêz por priorizarem suas carreiras. Alguns homens, ainda instáveis no mercado de trabalho, pensam no aspecto financeiro. Outros depoimentos, e não foram poucos, revelam que algumas pessoas não se sentem atraídas em deixar herdeiros naturais: preferem uma vida sem maiores responsabilidades, exceto às comuns da existência. De qualquer maneira, todas as alternativas estão corretas porque tal sinceridade é melhor que exercer um papel por sacrifício, obrigação ou, o que pior, com desdém. Porque o exercício da paternidade/maternidade, da mesma forma que alegra e nos oferece, em alguma medida, a sensação de continuidade, impõe um nível de exigência compartilhada, nem sempre alcançado. “Criar” não se resume em alimentação e cama. É algo trabalhoso e requer uma condição permanente de alerta. Portanto, uma vez que todos estão certos, a revelação da pesquisa indica algo promissor: pensar antes de colocar uma criança no mundo é um bom sinal. Crescer e multiplicar, com consciência, faz bem.

Compartilhar esta postagem