Coronéis modernos

Coronéis modernos

EDITORIAL

Ilhéus é uma cidade litorânea localizada ao sul de Salvador, na Bahia, e há mais de um século, em seu entorno a exploração do cacau foi muito forte. A construção de um porto imenso ajudou a escoar grande parte da produção até que uma praga conhecida como “vassoura da bruxa” dizimou as plantações. Mais recentemente o “greening” fez o mesmo com os pomares de laranja aqui em São Paulo, mas o fato é que os “barões do cacau”, como eram conhecidos à época, interromperam seus planos e hábitos, entre os quais, reza a lenda, visitas frequentes a boate Bataclan. Principalmente durante as missas dominicais, eles atravessavam uma passagem secreta para caírem nos braços de suas amantes. Mas os “barões” brasileiros ocuparam vários espaços ao longo dos anos neste país, desde a sua descoberta, porém impressiona a longevidade deles principalmente no Nordeste. Antonio Carlos Magalhães, no mesmo estado da Bahia, reinou absoluto por décadas, e o que dizer obre Alagoas? Para citar casos recentes, a família Calheiros, liderada pelo patriarca Renan, faz o que bem entende anos a fio. O senador, que já ocupou a presidência do Senado, escapou até de especulações afetivas, e vamos a outro personagem: Arthur Lira. O ex-presidente da Câmara ditou a pauta política do Brasil nos últimos quatro anos e provavelmente em 2026 ele será eleito novo governador de seu estado. Até lá, quem assistirá sua trajetória de camarote será um outro conterrâneo, o ex-presidente Fernando Collor de Mello. Autorizado no final da semana passada a cumprir prisão domiciliar, o caçador de marajás provavelmente não se incomodou com a decisão. Porque, além de manter em seu patrimônio os R$ 20 milhões que recebeu de propinas, ele passará suas “férias” no apartamento de sua propriedade avaliado em R$ 10 milhões. Localizado em uma praia de Maceió, o imóvel tem cerca de 600 metros quadrados e todo o conforto para satisfazer o representante maior desta rica família alagoana. Os brasileiros provavelmente não sentirão pena do senador; ao contrário. Collor mexeu com aquilo que as pessoas mais possuíam como ativos, e mais acreditavam: as cadernetas de poupança. Collor não teve que renunciar por isso, mas porque seria condenado devido aos esquemas de corrupção liderados por PC Farias. Ou seja, roubar é o que ele sempre fez e tardiamente pagará por isso. Se a história já o julgou, faltava mesmo o Judiciário. Por que Alagoas não deu ao Brasil apenas o Djavan?

Roberto Lucato

Ilustração: Senado Federal

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