Condomínios solidários

Condomínios solidários

A última vez que corria pelas avenidas do Guarujá, no sentido Enseada-Pitangueiras, decidi seguir pela rua paralela à praia. Queria conferir a reforma de uma conhecida padaria e algo me chamou a atenção. Vários edifícios exibiam placas com a inscrição de “Condomínio Solidário” e percebi depósitos de lixo reciclável entre eles. Interrompi o exercício para perguntar a um zelador do que se tratava, e a explicação foi simples e direta: “Os edifícios solidários são conectados, ou seja, fazem ações de caridade, de vez em quando campanhas de conscientização, e todos podem gravar um número de emergência em caso de acidentes”. Um incidente ocorrido no início da semana me fez lembrar de tudo isso, pois quase vitimou uma amiga querida. “Do nada”, como ela me disse, o “closet” de seu quarto ficou em chamas e ela, apavorada, saiu em busca de socorro. Primeiro ligou para um vizinho, que confundiu sua localização. Dizendo que o fogo estava consumindo seu quarto, o amigo se deslocou para o quarto andar, enquanto ela reside no nono. Desesperada pelo avanço do fogo e da fumaça, ela conseguiu chegar às escadas e, mesmo pedindo ajuda, ninguém conseguia ouvi-la. Por Deus, e pelos anjos que a assistiam, o auxílio chegou. Com a ajuda de baldes e extintores as chamas foram controladas, facilitando o trabalho dos bombeiros que chegaram minutos depois. Foi um grande susto, ela revelou, enquanto até hoje, tenta readquirir sua merecida paz de espírito. Uma vez fiquei preso em um elevador, sem celular. Um susto incomparavelmente menor, e ninguém ouviu meus chamados, também. Os condomínios não solidários são assim mesmo, todos fecham suas portas para o mundo, e vivemos cada vez mais isolados, sempre com medo. Em Limeira, há alguns anos, uma administradora se transformou em uma empresa gigantesca. Ela apostou em tecnologia e, por oferecer pequenas reduções nas taxas condominiais, ganhou a simpatia dos síndicos. Substituiu porteiros por interfones, faxineiras por diaristas e é ótima para disparar lembretes de cobranças pela internet. Um dia de atraso e lá estão as mensagens: “isso não é cobrança, é um lembrete”. Não há demérito nisso. Transformar condomínios em recintos frios e aparentemente seguros deve ser bom para a maioria, porque essa empresa segue crescendo. A questão a que me refiro é outra. Se já vivemos com tantas automações, lembro que elas não foram suficientes para salvar minha estimada amiga, Dona Maria Salete, socorrida pelo bom e velho vizinho. As máquinas, ainda, não possuem empatia.  

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