Como destruir uma paixão

Como destruir uma paixão

NA GRANDE ÁREA

AS POSIÇÕES políticas de Juca Kfouri não me interessam nem um pouco. Defensor de carteirinha do presidente Lula, quando não tem mais o que fazer, bajula o petista e provoca seus opositores. Juca foi melhor, mais elegante nos comentários e menos interessado no futebol inglês, algo bem presente.

PORÉM, é bem-informado, especialmente dos meandros do seu clube de coração, o Corinthians. Não é de hoje. Ele fez parte, correndo por fora junto com Washington Olivetto e tantos outros, da democracia corintiana, liderada dentro de campo por Sócrates e Casagrande.

E ASSIM, um mês antes da proclamação do novo presidente do Timão, Juca fez um comentário contundente: não se tratava de escolher o “menos pior”, mas o “menos bandido”. Juca revelou no longo comentário as falcatruas que à época já envolviam os dois candidatos. Ele esclareceu como as candidaturas não visavam a reestruturação do departamento de futebol, mas proveito próprio – através dele, é claro.

JUCA foi o autor da denúncia que culminou com a saída do patrocinador master da equipe, uma dessas casas de apostas, envolvida pelos dirigentes para benefícios pessoais. Também, foi ele assinou semanas atrás, o primeiro comentário descrevendo o passo a passo da queda do alvinegro, hoje tão previsível como certeira.

ENQUANTO isso, corintianos comuns como eu, o amigo Cesar Roberto e outros tantos, que não pertencem às organizadas e que portanto dirigem os destinos do alvinegro, amargam não apenas um longo jejum de títulos, mas um vazio de comando. O Corinthians, há algum tempo, se transformou na mais autêntica casa da mãe Joana.

POR ISSO não dá mais assistir a suas apresentações, tampouco comentar porque perdeu ou empatou mais uma partida. O Timão é, hoje, um timinho, sem qualquer planejamento tático, financeiro e administrativo. Apresenta um futebol covarde, só se defende e só depende dos milagres do arqueiro Hugo Souza, como já dependeu de Cássio tantas vezes.

CAIR ou não para segunda divisão não é o problema, faz parte do jogo, mas o irritante é saber que qualquer mudança, mesmo o iminente impeachment do presidente, será lenta e gradual. Quando aconteceu a goleada da Alemanha, muitos acreditavam que o Brasil deveria aproveitar o fato para se reinventar. Mudar os conceitos da seleção e aquela papagaiada toda. Nada aconteceu. Pior, desde então não conseguimos sequer chegar a uma semifinal de Copa do Mundo. Para brigar por uma vaga na Libertadores, podem anotar, serão mais três ou quatro temporadas pela frente, considerando a volta para a série A em 2026.

FEZ tempo, o futebol apenas reflete em campo o que é feito fora dele. Simples. Coloque no papel o elenco do maior rival, o Palmeiras. Isso, no papel, jogador por jogador. Tem algum craque? Exceção feita ao jovem Estevão, e à regularidade de seu bom goleiro, são apenas bons jogadores, alguns medianos. E por que ganharam tanto nos últimos anos? Comando eficiente do técnico, respaldado pela condução firme da presidente Leila Pereira.

VEJAM a diferença. Enquanto a quadrilha que comanda o Timão se preocupou em tirar sujas comissões da empresa de apostas, o Palmeiras não se deixou seduzir por uma proposta de R$ 100 milhões da mesma natureza. Não é por preconceito: é porque existe um critério semelhante às licitações públicas para a escolha de patrocinadores.

DOMINGO passado, para reforçar o quanto o extra campo é importante, ouvi uma longa e agradável entrevista concedida pelo CEO do Fortaleza, Marcelo Paz. Ex-presidente do Leão do Pici, ele foi eleito recentemente o melhor CEO do futebol brasileiro, desbancando por exemplo a própria Tia Leila. O caminho das pedras? Continuidade, estrutura, organização e gestão do elenco. Tomara em algum tempo ele possa fazer isso na seleção brasileira.

PRONTO, escrevi.

TORCIDA do Real Madri está com duas pulgas atrás das orelhas. A primeira delas diz respeito ao desempenho de Mbappé, que não fez golas nos últimos quatro jogos. A segunda, com o baixo desempenho de Vinicius Júnior, provavelmente refletindo instabilidade emocional depois de recusar cifras bilionárias para se transferir ao futebol árabe. Já escrevi sobre isso e insisto: Vini Jr. é como chuvas de verão, fácil vem, fácil vão.

TORCEDORES da Internacional terão que esperar até o começo da noite deste domingo para gemer na rampa, como se dizia antigamente. Como escrevemos na semana passada, buscar o resultado em casa sem pensar na possibilidade da derrota custou caro. O Maringá é superior, mas a Inter já surpreendeu nesta longa caminhada do campeonato brasileiro.

EMBORA os Jogos Paralímpicos não sejam tão paparicados pelas emissoras de TV, revelam não apenas o excelente desempenho do Brasil, mais uma vez, como histórias incríveis de superação. Nossa medalhista de ouro no taekwondo, Ana Carolina Moura, por exemplo, má-formação congênita no antebraço direito e começou a praticar a modalidade para se defender, após ser assaltada e perder um colar que havia ganhado de uma tia quando nasceu. Mineira, com 29 anos de idade, merece os nossos aplausos. Ótimo final de semana, amigos!

Roberto Lucato

Ilustração: Marcelo Zambrana – CPB

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