Colombinas em perigo

Colombinas em perigo

EDITORIAL

Como se faz pesquisa para quase tudo, uma, agora, revelou a sensação de insegurança das mulheres durante o carnaval. Segundo o estudo, nada menos que oito entrevistadas disseram que temem serem importunadas sexualmente enquanto desfrutam dos festejos de momo. De fato, aconteceram coisas estranhas durante a pandemia. O distanciamento alterou rotinas, aproximou casais – para o bem ou para o mal – e decretou o fim provisório das aglomerações públicas, entre as quais espetáculos e festas populares. Pouco antes do anúncio do primeiro caso de Covid-19 no Brasil, no carnaval de 2020, estava em Ilha Grande com minha mulher. Foi a última vez que acompanhei, olhos nos olhos, como se desenvolve o carnaval em uma praça pública e, um pouco depois, nas ruas do entorno da antiga cadeia. Porém, acompanhamos também um protesto organizado por dezenas de mulheres. Como se estivessem participando de uma procissão, todas estavam com uma vela acesa na mão e algumas erguiam cartazes. O motivo: o assassinato de uma jovem, perseguida por seu algoz e levada para o alto do morro, onde fora estuprada e assassinada. O crime não teve nada a ver com o carnaval, e fez aumentar as estatísticas de mulheres vítimas de feminicídio, portanto a pesquisa é certeira enquanto demonstra uma sensação. Infelizmente, entretanto, os números são frios e sequer serão usados para conscientizar quem quer que seja. Como diziam os mais velhos, os incomodados que se mudem. Cortejar uma mulher, nos dias de hoje, torna o homem um potencial suspeito, e não um potencial amante. Algum Arlequim pode não se contentar mais em apenas chorar pelo amor de sua Colombina, no meio da multidão.

Roberto Lucato
Ilustração: Freepik

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