Chá de senhoras

Chá de senhoras

Ponto Um

Quando o mundo era bem diferente, jovens senhoras, depois de criarem os filhos e ajudarem seus primeiros netos, tinham uma vida com poucos atrativos. Praticamente só saiam de casa quando exerciam atividades sociais, de vez em quando participando de chás na casa de amigas. Foram tempos de enorme hipocrisia do chamado “mundo dos homens”, por sinal bem explorado no filme Titanic, que não apenas revelou como eram tratados os cidadãos de “segunda classe”, mas as mulheres, autênticas serviçais de seus maridos. Por essas e outras sou fã incondicional destes novos tempos, nos quais as mulheres estão cada vez mais confiantes e a cada dia mais independentes. E pequenos detalhes revelam essa revolução. Na semana passada, antes de chegar em casa, parei por alguns minutos em uma conveniência para pensar na vida. Sentei-me ao lado de três simpáticas senhorinhas, das quais duas me reconheceram e cumprimentaram. Era impossível não ouvir o que diziam, mas elas estavam literalmente jogando conversa fora e cervejas para dentro. Trocaram telefones de manicures, falaram sobre seriados na TV e de suas atividades voltadas para a saúde, como se estivessem festejando, literalmente, a paz que alcançaram. Pois esse é o sentido da meia idade, que não começa exatamente no meio da vida, mas um pouco depois. E começa quando temos autonomia motora, cognitiva e alguma, financeira, para tomarmos decisões prazerosas, não somente chatas e cotidianas. Na semana passada, a última postagem feita por Abílio Diniz, um dos mais respeitados e inspiradores empresários brasileiros, foi relembrada. Ele estava curtindo uma nevasca em Aspen, se dizendo feliz por aquele momento, mal imaginando que dias depois estaria no céu. Sua biógrafa, entrevistada por ocasião de sua morte, revelou que ele vivia um momento especial, tinha planos para o futuro, mesmo com 83 anos, e só estava interessado em fazer “coisas úteis”. Claro, com dinheiro tudo é bem mais fácil. Fazer com que o mês financeiro não se acabe quando a folhinha indica é ótimo, mas respeitadas as enormes proporções, o happy hour daquelas senhorinhas transmitiam a mesma liberdade com a qual Diniz se mostrou feliz. E com uma vantagem: elas estavam entre amigas, algo que vai se tornando mais raro com o passar do tempo. Moral da história: não é preciso se esforçar para ser feliz, ou para mudar o seu curso da história. Basta iniciativa e disposição para investirmos naquilo que nos deixem bem, sem o receio de cobranças ou lembranças inúteis. A vida é agora!     

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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