Cara a cara: 82 x 24
NA GRANDE ÁREA
A GENTE vai envelhecendo e se assusta até com barulho de folhas rolando pelo chão. Foi o que aconteceu comigo depois de voltar da quermesse da Catedral sexta-feira à noite. Dividi o lanche de pernil ao meio (não consigo comer um inteiro), liguei, ajustei a televisão no modo “futebol” – as cores ficam mais vivas – e conferi as equipes no gramado.
DESTE PONTO em diante começaram os sustos. Na escalação, percebi que o goleiro seria o Alisson, e não o Waldir Peres. O barbudo, de fato, é um bom arqueiro, mas já foi melhor. Cássio foi um gigante no Timão, porém, de dois para cá, apresentava falhas em várias ocasiões, mais em função da ruindade do elenco. Talvez esteja ocorrendo o mesmo com jogador do Liverpool.
NA LATERAL direita, no lugar de Leandro, jogou um tal de Danilo. Prefiro o ex-craque do Flamengo, mais ativo no apoio aos atacantes. Danilo claramente não consegue se adaptar com o peso da camisa e, apesar de parecer uma liderança em campo, é só figuração. Não consegue ser titular na Juventus, querem o que?
SENTI falta de Oscar para comandar a cabeça da área. Ele é um autêntico xerife, ao contrário daquele que foi escalado, Marquinhos. Não que ele seja fraco, ao contrário, é um bom jogador, vai bem pelo alto, porém, por falta de alguém para fazer o primeiro combate, se atrapalha um pouco quando tem de se posicionar.
E NA QUARTA-ZAGA, então? Colocaram Gabriel Magalhães, titular do bom time do Arsenal. Ao contrário de Marquinhos, oscila pelo alto e não consegue desarmar com eficiência. É o tal zagueiro que apenas cerca, não mata. Prefiro Luizinho, que além de tudo possui um passe sofisticado. E muita categoria.
BRINCADEIRA foi o que fizeram na lateral esquerda. O “maestro” Júnior sequer ficou no banco, e em seu lugar colocaram Guilherme Arana. Um convite à bola nas costas, porque ele é lento na recomposição. Mas convenhamos: é disciplinado. Porém, é um lateral caranguejo, só anda de lado.
COMPREENDO que o Toninho Cerezo, de vez em quando, vacila nos passes, mas ele destrói mais que o André, que entrou como titular. Não há dúvidas que o menino é promissor, uma grata revelação dos últimos tempos, mas ainda falta impor o seu futebol. Timidez atrapalha quem procura namorada e médios volantes.
OUTRA escolha que não entendi. Falcão, nosso Rei de Roma, perdeu o seu lugar para Lucas Paquetá. Para ser honesto, ele tem se esforçado para jogar tudo o que sabe, mas continua procurando espaços de forma desordenada. O atleta do West Ham já demonstrou, na Copa, que é mediano, e assim permanecerá na seleção.
OUTRA escolha absurda. O Dr. Sócrates nem foi relacionado, e em seu lugar entrou Bruno Guimarães. Uma péssima escolha. Em primeiro lugar porque ele não sabe dar passes de calcanhar. Depois porque não jogou no Corinthians e finalmente, pelo fato do atleta Newcastle não ter presença de área quando necessário. É outro que gosta de trabalhar a bola lateralmente, isso irrita!
QUASE desliguei a TV, no entanto, quando sacaram o galinho. Acreditam? Zico foi substituído por Rodrygo, que aliás fez uma única coisa no jogo: o gol que nos deu a vitória. No mais, acumulou muito erros de passes e deve compreender: quando se assume a responsabilidade de construir jogadas ofensivas, a bola passa pelos pés a toda hora, e essa é uma responsabilidade à qual ele não está à altura para assumir. Como na Copa.
RESPEITO A opinião de quem acredita que Vinícius Júnior seja mais rápido do que o Éder, outro que perdeu a posição. Mas bato na tecla na eficiência. Jogando aberto, quase fora do gramado, ele não tem furado as zagas adversárias como se esperava. Talvez se jogasse mais centralizado encontraria mais facilidade em driblar e servir aos seus companheiros. Éder ao menos cobra faltas como ninguém!
A ESSA altura da escalação não esperava mais surpresas, mas acreditem se quiserem: também Serginho não foi relacionado, perdendo o seu lugar para Luiz Henrique. Tudo bem, a estrela botafoguense se movimentou bem, mas não soube sair da forte marcação que recebeu. E aí é problema. Assim como Neymar nos velhos tempos, jogou mais caído no gramado do que em pé. Também não soube se colocar na área como opção.
SÓ ACORDEI desse pesadelo quando encontrei a explicação: não era o mestre Telê Santana que estava comando o nosso time, mas Dorival Júnior. E entre eles existe uma diferença brutal de conhecimentos táticos. Porém, teve dois acertos ao colocar Gerson – muito melhor – no lugar de Bruno Guimarães e Estevão substituindo Luiz Henrique. Mesmo sem pouco tempo, a revelação palmeirense não sentiu o peso da camisa. Pena que Dorival hesitará para colocá-lo ao lado de Endrick, o que seria uma aposta em nitroglicerina pura!
EM RESUMO, nossa seleção canarinho continua a apresentar um futebol abaixo da média. Não pratica um jogo alegre e mais uma vez falhou no setor defensivo em diversos momentos contra o Equador. No ataque não há construção, nem ousadia. Há expectativa de vacilos dos adversários. Querer o que? Se na Espanha, com esse timaço, perdemos para a Itália em Sarriá, o que esperar desse elenco?
VOLTAREMOS EM duas semanas, e até lá, por enquanto, ótimo final de semana amigos, com muita hidratação, seja com o líquido que prefiram.
Roberto Lucato
Foto: Luiz Henrique estreou pela Seleção Brasileira contra o Equador
Créditos: Rafael Ribeiro/CBF