Brasil, o país da impunidade

Brasil, o país da impunidade

EDITORIAL

Organizar um evento, seja uma festa de criança ou uma ceia de Natal, exige planejamento. No primeiro caso, a compra do bolo, das velinhas, dos enfeites, docinhos e, é claro, dos convitinhos. No segundo, a escolha entre chester ou peru, a compra de bebidas e dos chamados aperitivos. Quem organiza essas festas não ganha nada com isso, apenas a satisfação de acompanhar tudo sair à contento. Porém, quem organiza eventos com o interesse de ganhar dinheiro, deve ter em mente uma escala de valores, não exatamente financeiros. No topo da lista, para todos os efeitos, deve estar a segurança e o bem-estar dos convidados, no caso, clientes. Com base nisso são feitas as estimativas, por exemplo, das dimensões do palco dos acontecimentos. Dos níveis de confiabilidade nos equipamentos, em protocolos de emergência, enfim, prever o que pode dar errado é mais importante do que confiar na certeza do acerto. Depois da tragédia da Boate Kiss, uma lista de exigências passou a vigorar em todo o País, mas foi preciso que mais de duas centenas de jovens perdessem suas vidas para que os órgãos reguladores acordassem. Porém, segue liderando o ranking de acidentes e incidentes os estádios de futebol. Recentemente, uma equipe brasileira e outra argentina disputaram uma final no Maracanã, na qual nossos vizinhos causaram depredações e tumultos, despertando a ideia de revide dos torcedores locais. Ontem, Brasil e Argentina voltaram no mesmo estádio, desta vez representando seus países. O que se viu antes do jogo não foi apenas inacreditável, como um atestado de absoluta incompetência de seus organizadores. Porque é humanamente impossível acreditar que, entre quase setenta mil pessoas, não haveria grupinhos dispostos a brigar, depredar e, se deixassem, matar. O mais curioso é que, mais uma vez, no auxílio de futuras repetições, nenhum responsável foi punido, teve seu nome exposto e, no caso de uma empresa, ser proibida de organizar a segurança das partidas até aprender o ofício. Se o chester queimar ou se o bolo de aniversário derreter, haverá frustração e depois risadas. Quanto aos repetidos episódios no Maracanã, bem, foi uma inconsequência absurda e assustadora, bem típica de um país que não sabe punir, só cobrar.

Ilustração: Freepik

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