As duas torneiras da administração
EDITORIAL
Em Serra Negra, quase simultaneamente, três sorveterias foram abertas em um prazo de seis meses. São da mesma marca e especializadas em sorvetes de massa e seus derivados. Uma das lojas é mais robusta, com uma agradável área de atendimento, enquanto as outras duas ficam na principal rua comercial da cidade. Neste final de semana, como aconteceu no anterior, a cidade estará lotada de turistas. Localizada a 1.000 metros de altitude, escrutada entre montanhas, essa estância hidromineral vive do turismo, basicamente, e quanto mais frio, melhor. Fico imaginando quais as estratégias que os donos das sorveterias devem ter imaginado usar com algumas semanas de temperaturas baixas. Por exemplo, na semana passada os termômetros marcavam 6 graus à noite. Pois bem. Queda de faturamento em negócios sujeitos à sazonalidade faz parte do negócio. Nas cidades litorâneas, por mais movimentadas que fiquem em fins de semana ”normais”, vamos dizer assim, o “grosso” da arrecadação acontece no verão, até meados de abril. Quem é acostumado com esse balanço das ondas necessariamente deixa uma poupança bem reforçada, como no conto da cigarra e a formiga. O secretário da Fazenda de Limeira, Valmir Barreira, há muitos anos convive com números da administração municipal. É experiente e goza de muito prestígio por parte da família que atualmente comanda o Edifício Prada. E, é bom lembrar, ele não é autor do orçamento em vigor, mas com toda a sua experiência poderia ter levado à Câmara Municipal, onde teve que detalhar a queda de arrecadação do município, parâmetros comparativos. Por exemplo, das quedas pontuais nos repasses de ICMS (projeção de R$ 145,7 milhões contra arrecadação de R$ 130 milhões) e na arrecadação do IPTU (projeção de 76,6 milhões e arrecadação de R$ 62,2 milhões). No primeiro caso, a indicação da queda da atividade econômica é clara enquanto no segundo (e aqui se pode incluir o IPVA, que despencou de uma projeção de R$ 93 milhões para uma arrecadação de R$ 84,8). São indicadores que demonstram a queda do poder aquisitivo dos limeirenses. Por outro lado, as projeções de arrecadação com o Fundeb e FPM praticamente bateram, setores nos quais o contribuinte limeirense pouco interfere. Como não foram exibidos números anteriores para uma análise mais aprofundada deste primeiro quadrimestre, a conclusão é a mais óbvia possível: os contribuintes locais precisam de estímulos para saldarem suas contas, especialmente de IPTU. O prefeito deveria parar de gabar-se de promover economia porque, na administração de qualquer negócio, seja na sorveteria ou em um quiosque de praia, existem portas de saída, mas de entrada também. Economizar, portanto, é salutar, mas não é tudo. Viver é preciso.
Roberto Lucato
Ilustração: Freepik