Aparências enganam

Aparências enganam

EDITORIAL
Há exatos 30 anos ocorria em São Paulo aquilo que viria a ser conhecido como O Caso da Escola de Base. Para relembrar, tratou-se de uma injusta acusação de assédio sexual feita contra os proprietários de uma escola, ambos falecidos há muitos anos, arquivada por falta de provas. O caso foi tão midiático e tão condenável que até hoje é lembrado quando a imprensa adota posturas fora dos padrões, em coberturas exageradas, criando uma espécie de pré-julgamento que não se sustenta. É o que apontam, agora, as notícias sobre a sobrinha do Tio Paulo, acusada de levar uma pessoa morta até uma agência bancária para obter um empréstimo. Desde os primeiros relatos sobre essa ocorrência algo parecia estar errado, e agora, alguns fatos parecem indicar para uma situação diferente daquela construída na semana passada. Particularmente, depois de acompanhar as imagens da “sobrinha” durante o dia anterior aos fatos, também os depoimentos de duas testemunhas, vendo ainda o trabalho que a mulher teve que empreender para “dirigir” a cadeira de rodas de seu tio, de lá para cá, em vários momentos, me perguntei: tudo foi uma grande encenação ou ela, de fato, estava apenas tentando ser serviçal ao parente, a tal ponto de não perceber seu próprio estado de saúde, precário e terminal? Na gravação feita no banco, ela não exibe sequer uma manifestação de surpresa quando o tio não se mexe; ao contrário, ela insiste em ajudá-lo, e esta é minha principal e grande dúvida: essa Érica não age mais como uma pessoa imbuída de ajudar um parente do que como uma golpista? Quem já conviveu com cuidadores sabe disso: entre assistido e cuidador se desenvolve uma relação de confiança extrema, e isso pode ter acontecido. Os depoimentos dos filhos, agora públicos, parecem corroborar no sentido de apresentar à imprensa afoita uma mulher com problemas mentais, porém comprometida em ajudar ao próximo. Que o delegado deste caso não siga os mesmos passos da Justiça no episódio da Escola de Base, e que tenha o máximo de cautela.

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