Aos solavancos, jornalismo resiste

Aos solavancos, jornalismo resiste

EDITORIAL

Neste meio de semana o jornal O Globo completa o seu centenário. Ainda no domingo, o periódico brindou seus leitores publicando a maior edição impressa de sua longa história, na qual incluiu cadernos temáticos os quais, no passado, chamávamos de “encartes”. Não há dúvida sobre a pertinência de toda a sorte de celebrações quanto a data, porque no caso de O Globo, o jornal impresso alavancou a criação da TV da família Marinho, há 60 anos, uma das mais importantes não apenas do Brasil, como de todo o mundo. Uma prova robusta de como eram fortes, economicamente, os periódicos no século passado. Isso se deu até duas décadas atrás, quando a última transformação relevante no jornalismo interrompeu a trajetória de dezenas de títulos Brasil afora. A rápida migração dos anunciantes para plataformas digitais não permitiu à maioria dos jornais completarem as transições impostas por uma nova realidade. Por exemplo, a diminuição do número de entregadores de jornais, impondo um pesado passivo exatamente quando o faturamento mensal caia em progressão geométrica. O Globo, voltando ao celebrante, teve outras virtudes, e a principal delas a aposta no alcance de uma emissora de televisão. Enquanto seus rivais paulistas fizeram outras escolhas – A Folha de S. Paulo no portal noticiosos UOL e o “Estadão” na rádio Eldorado – o jornalismo e a dramaturgia conferiram a TV Globo relevância para superar a lacuna deixada pelas TVs Excelsior e Tupi, que estacionaram no tempo. E assim, enquanto cresciam as audiências de novelas e telejornais, a relevância da Globo conferiu-lhe musculatura econômica enquanto sua imagem era vista em todo o país – algo que atraiu, desde sempre, a atenção da classe política. Essa influência foi fundamental para o fortalecimento do conglomerado, que voltou a viver dias de glória com o novo mandato do presidente Lula. É verdade, nesses tempos, como nunca antes, leitores, telespectadores e ouvintes não são apenas receptores de informações, mas participantes dela – por isso há tanta discussão ideológica nas redes. Goste-se ou não deste importante conglomerado, o fato é que ele possui uma enorme relevância no Brasil. E foi bom rever uma foto, em preto e branco, de Roberto Marinho sentado ao lado de uma linotipo, exibindo um sorriso orgulhosa provavelmente pela chegada de mais um equipamento desse em suas oficinas.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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