Algoz do populismo
EDITORIAL
Getúlio Vargas foi um ditador. E, como tal, popular. Isso não é estranho: trata-se de um resultado esperado. Através de um golpe de estado, ele chegou ao poder em 1930 e depois permaneceria até 1945. Gerenciando aquilo que se conheceu como Estado Novo. Se pesquisarmos de maneira rasa suas maiores contribuições para o Brasil encontraremos apenas leis dirigidas aos trabalhadores. Incluindo a promulgação da Consolidação das Leis do Trabalho e um ministério específico para cuidar dessa questão. Portanto, não à toa recebeu o codinome de Pai dos Pobres, o que lhe conferiu popularidade suficiente para voltar, agora pelo voto, em 1950. Não se deve, contudo, demonizá-lo por isso. A proteção ao direito ao trabalho é, minimamente, uma forma de estabelecer um regramento unificado contra abusos, desmandos e, em casos mais extremos, escravidão. Porém, depois dos escombros da segunda Guerra Mundial, a reconstrução da Europa e dos Estados Unidos fortaleceu a classe trabalhadora, predominantemente braçal, impulsionando sindicatos que viram uma enorme brecha para se beneficiarem dessa demanda. Por mais de trinta anos, portanto, e a partir deste ponto, à “proteção” aos trabalhadores adicionou-se uma série de benefícios transformados em custos que foram repassados, sistematicamente, aos consumidores. Lula pode ter todos os defeitos que lhes possam atribuir, mas bobo ele nunca foi. Como ele teve um olho em terra de cegos, entrou na política fundando um partido para chamar de seu, valendo-se da complacência da igreja católica e sua vocação para cuidar dos “mais humildes”. Lula não mudou de lá para cá. Esta assim há mais de 40 anos, como se pretendesse receber a mesma alcunha de Vargas, que se transformaria em “avô”. Semelhante ao “velhinho bom de voto”, Lula e sua sucessora, a “ensacadora”, nunca deixaram de despejar no colo da classe empresarial a conta desse populismo. Por isso o chamado custo Brasil, que inclui impostos e o preço do trabalho, nunca diminuiu. E um político não é empresário, não pensa como tal. Lula nunca foi empresário e não sabe o que é um dono de uma empresa receber instruções de seu RH sobre novas obrigações trabalhistas. Nosso Robin Hood continuou protegendo a classe, como presidente, pelo assistencialismo, como se essa conta não tivesse fim. Mas teve. Essa demora para a aprovação da redução de gastos esbarra nessa bomba relógio orçamentária. Há dois anos de se candidatar-se a um quarto mandato, diminuir a irrigação financeira de programas sociais seria um suicídio. Getúlio cometeu um suicídio físico em 1954. Lula não faria um suicídio político na reta final de sua trajetória. Isso explica porque ele resiste a administrar contas públicas mais realismo. E explica também o dólar a quase seis Reais e, se continuar assim, em breve, o aumento dos combustíveis e da inflação de um modo geral. Lula é prisioneiro de si mesmo. Mudar agora? Jamais.
Roberto Lucato
Ilustração: Café História – Foto: Getúlio Vargas cercado de correligionários. Arquivo Nacional.