A responsabilidade do artista

A responsabilidade do artista

EDITORIAL

Há quase um ano, meu filho comentou que sua namorada, que reside com ele na Austrália, pretendia voltar ao Brasil em novembro para suas merecidas férias. Na verdade, ela queria mesmo participar de um show que aconteceu na semana passada, de um grupo chamado RDB, e foi convencida que não valeria a pena. Ambos alteraram, então, o destino e a data, para Japão e março de 2024. Como sempre digo, nunca tente convencer sua parceira com argumentos imediatistas ou lógicos; elas normalmente tomam decisões mais acertadas depois de reflexões mais aprofundadas. Basta ter paciência. Pois bem. Isso explica, em parte, porque pessoas como ela estavam, há meses, aguardando não apenas o tal RBD como a emblemática Taylor Swift, que neste final de semana estará em São Paulo realizando três apresentações. Para quem se assustou com a histeria dos fãs, uma sugestão: vejam como eram recebidos conjuntos e astros como Elvis Presley e Beatles há 50 anos. Portanto “endeusar” um artista faz parte do jogo. Na semana passada, mesmo, tive uma sensação alegre em ouvir, novamente, A Voz do Violão cantada por Chico Alves, para o pai, o maior cantor de todos os tempos. Portanto gostar desta garota, de sua performance e de suas músicas, como diria Cazuza, “faz parte do show”. Contudo, não podemos dissociá-la da responsabilidade de provocar consequências. Porque o artista é uma pessoa, não uma entidade inatingível legalmente. As condições meteorológicas sob as quais ela se apresentou no Rio estavam extremamente desfavoráveis, como as condições do Engenhão, palco do show. Muitos relatos foram feitos sobre a falta de ventilação, para inibir que pessoas de fora ouvissem ou mesmo vissem parte do espetáculo, algo comum lá fora. Claro, sem contar a questão da proibição do acesso do público com garrafas d’água. Um absurdo. Uma jovem mato-grossense perdeu sua vida, sua família teve que ser ajudada por uma vaquinha virtual, e onde estava Swift? Cancelar sua segunda apresentação com o estádio lotado foi apenas a segunda prova da desconsideração com a qual sua equipe tratou milhares de fãs, que também são “clientes” de um espetáculo. Se dos desastres ou tragédias podemos retirar alguma experiência, que isso seja feito em São Paulo.

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