A praça será nossa, um dia

A praça será nossa, um dia

Carlos Alberto de Nóbrega está naquela altura da vida na qual não precisa mais fazer mesuras para dizer o que pensa. Um dos mais longevos humoristas da televisão brasileira, além de competente redator, ele comanda com muita habilidade, do alto de seus 87 anos, o último programa de humor relevante da TV. Igual ao seu pai, Manoel de Nóbrega, ele interage com personagens escolhidos à dedo do banco de uma praça cenográfica. E recentemente ele não tem poupado esforços para participar de podcasts dos mais variados, nos quais fala de sua carreira, do seu passado e ainda faz planos para o futuro. Não raramente são reprisados episódios marcantes nos quais os artistas falam de sua generosidade, afeto e companheirismo, registros que obviamente ficavam apenas em sua memória. Portanto, não se pode dizer algumas cosas sobre ele, por exemplo, que seja grosseiro, indisciplinado ou ativista. Entre seus recados, porém, um ganhou maior dimensão esta semana, quando se mostrou indignado pela falta de estudo do presidente Lula. Entrevistado pelo programa Roda Viva, ele demonstrou que isso não era um bom exemplo, em um país onde a educação é tratada com grande desprezo. Claro que, imediatamente, ele foi criticado pela presidente do PT, Gleisi Hoffman, e ato contínuo pelo próprio presidente: ambos salientaram que, apesar da humilde qualificação do criticado, muitas universidades foram inauguradas após a passagem do petista pela presidência. Obviamente não há o menor problema de um presidente não possuir um diploma pendurado na parede. Os políticos mais dependem do convencimento popular do que de suas próprias credenciais acadêmicas, mas é inadequado e excessivo o conjunto de ataques que o humorista tem recebido por parte de alguns articulistas. Nobrega revelou apenas aquilo que acha, e muitos devem pensar como ele; ora, democracia não é isso? Ele também comentou que Marcius Melhem seria bom para um programa humorístico na SBT, isso é politicamente incorreto também? Acusado de assediar sua ex-companheira, ele teria perdido sua capacidade de trabalhar por isso? De quem é o preconceito, de quem o produz ou de quem o analisa? Infelizmente ainda vivemos sob instabilidades no quesito liberdade de expressão, campo em que as reações parecem mais significativas que as ações.

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