A “pegadinha” chamada Fies

A “pegadinha” chamada Fies

EDITORIAL

Há muitos anos, mais de dez, com certeza, um cinegrafista que prestava serviços junto a uma esquipe de esportes revelou que acabara de ingressar no curso de jornalismo. Como sabia que ele estava noivo, pretendendo se casar, perguntei, considerando seus rendimentos em torno de mil e quinhentos Reais por mês, como ele pagaria o seu curso. Sorridente, ele me disse: “consegui um financiamento pelo Fies”. Continuamos a conversa. Perguntei novamente como ele pagaria este financiamento no futuro, uma vez estimando que, depois de quatro anos, ele não conseguiria, digamos assim, dobrar o seu salário. Sem perder tempo, sequer fazendo contas, ele respondeu: “O importante é que serei jornalista profissional”. O tempo passou, seu curso terminou, e novamente conversamos. Ele pediu minha ajuda para “fazer um acordo”, assim possibilitando o saque de seu saque do FGTS. Perguntei se ele investiria no casamento, e sua resposta foi rápida: “pretendo quitar o Fies, porque não consigo pagar as parcelas”. O Fies, portanto, como pensava na época, era apenas uma pegadinha política, sendo um benefício interessante apenas para alavancar carreiras ou profissões que proporcionassem, ao final do curso, ótimo salário ao recém-formado. Algo que não acontece com a maioria dos casos. Vejo agora que o os estudantes poderão, a partir desta semana, renegociar seus débitos com o Fundo de Financiamento Estudantil através das agências da Caixa e do Banco do Brasil. O MEC calcula que existem mais de 1,2 milhão de inadimplentes, e que as somas a serem renegociadas cheguem a 54 bilhões de Reais. O desconto é vantajoso, de até 99%, e sem dúvida aliviará a vida de gente que, a exemplo do cinegrafista, trocou um sonho por um pesadelo. Portanto, insisto: o Fies é uma pegadinha de mau gosto. Como ideia é ótimo, mas na prática serve apenas para tornar os conglomerados educacionais ainda mais robustos financeiramente.

Ilustração: Freepik

Compartilhar esta postagem