A opção pelo ridículo

A opção pelo ridículo

Ponto Um

Uma especialista em comunicação tentou ensinar, em um programa de rádio, os primeiros passos sobre a vida pública nas redes sociais a um médico. Ele temia que, por não frequentá-las como gostaria, se sentiria inseguro para responder a possíveis repercussões de suas postagens. Ela fez um “passo a passo”, dos quais escolho três pontos. O primeiro, todo profissional, seja de qualquer área, sabe que seus escritos não serão apenas lidos por interessados, mas por colegas – isso era muito comum antigamente, quando havia mais fartura de comentários em jornais, e não nas redes. O segundo é que este fato pode interferir na transmissão da mensagem. Se o médico fizer uma recomendação sobre gripes, por exemplo, ele poderia receber um caminhão de perguntas, como críticas sobre uma eventual superficialidade – o que o “rebaixaria”. O terceiro ponto: qualquer postagem deve ser útil, no mínimo interessante. Pessoas que queiram transmitir conhecimento são bem recebidas pelas redes quando este interesse é identificado. Psicólogos, por exemplo, se fartaram em transmitir recomendações durante a pandemia, algumas com perfil de autoajuda – o que me deixa com sono – e outras mais interessantes, sobre equilíbrio entre corpo e mente. Mas quanto ao desejado “alcance”, o tal número de visualizações, faz parte de todo o jogo? Para fins comerciais, sim, e existem técnicas que trataremos no desfecho deste comentário. Mas outras questões devem ser avaliadas. Para pessoas com baixa autoestima, perceber que uma ilustração ou comentário repercutiu mais do que se esperava é o sonho realizado. Mas isso cria um certo tipo de dependência, de falar sempre as coisas certas, nos momentos apropriados. É difícil porque, definitivamente, as redes cada vez mais se transformaram em lugar de diversão e agressão, e não de conhecimento. E para chamar a atenção, as pessoas não devem – ou podem – ser normais. Em regra, são engraçadas mas, fundamentalmente, ridículas. Só o ridículo atrai com facilidade. Só o ridículo desperta atenção. Há uma pianista russa belíssima que se apresenta diariamente no Instagram, sempre com suas longas pernas à mostra. Ela usará calça jeans, um dia? Claramente não. Portanto, existe uma escolha a ser feita: excetuando-se a exploração da beleza ou talento, no caso da pianista, seja ridículo ou você mesmo. Mas lembre-se: o ridículo é opcional. Escolha bem aquilo que exibe, fala ou escreve, e prepare-se para ficar de bem com essa decisão, consigo mesmo.    

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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