A (nova) febre dos bebês

A (nova) febre dos bebês

EDITORIAL

De tempos em tempos, e cada vez em espaços mais curtos, surgem nas plataformas digitais – mídias sociais, melhor dizendo – alguns modismos passageiros, além de peripécias idiotas que não levam a lugar algum. Como fizeram três jovens que, pulando uma cerca de arame farpado, ao lado de uma pista de pouso e decolagem de aeronaves, se jogaram no chão para filmar mais proximamente uma dessas situações. Identificados, eles responderão à diversos crimes e, certamente, pagarão por isso na esfera penal. Voltando aos modismos, surge agora um movimento tão banal que não deveria merecer maior atenção exceto dos profissionais da área de saúde mental. Os chamados “bebês reborns” estão dando o que falar. Nesta semana, por exemplo, um deputado baiano ocupou a tribuna da Câmara Federal mantendo um desses exemplares no colo, dizendo que, “se alguém “cria” um bebê reborn, compra roupinha, dá mamadeira, faz chá de fralda, faz gastos com esses bonecos de silicone, sem querer importunar o SUS, padres e pastores, para inclusive ter que abençoar seus objetos de silicone, que tenham e brinquem com seus bonecos; não é pecado”. O pastor Sargento Isidório (Avante-BA) quis se juntar, neste ridículo momento, a diversos influenciadores e influenciadoras que tem se aproveitado para desfilar, em suas contas, suas coleções. E, claro, o que fazem com os bonecos. Para quem ainda não foi apresentado, trata-se de armações feitas com silicone que, segundo comentam que os possua, exibem um realismo sem precedentes com seus homônimos de carne e osso. E engana-se que acredita que tenham apenas tamanhos de bebês. Os bonecos podem chegar a medir 1,2m, para aqueles que decidam cuidar de uma “garotinha de 4 anos de idade”. Aparentemente, se não vivêssemos em tempos de conflagrações, essa moda se restringiria ao campo das ostentações, por exemplo, de quanto uma pessoa estaria disposta a investir em seu “filho” – sabendo-se que há exemplares vendidos por até R$ 8 mil. Porém, como era de se esperar, a discussão saltou para o campo ideológico. Um exemplo: como são tratadas crianças naturais e artificiais (?). Uma outra diz respeito à maternidade. Há quem julgue pessoas adultas como “fracassadas” emocionalmente pela ausência de filhos em suas vidas (?). Na mesma linha psicológica, existem julgamentos mais severos contra essas “mães adotivas”, como se não tivessem mais o que fazer de suas vidas – investir em um bebê reborn é politicamente aceitável? É incrível. Mas são os tempos em que vivemos. Será que as “Barbies”, tão disputadas há décadas, receberiam todo esse julgamento se tivessem nascido com um celular nas mãos?

Roberto Lucato

Foto: Câmara dos Deputados – Bruno Spada

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