A nova Argentina de Milei
EDITORIAL
A exemplo do que ocorreu no Brasil há quase um ano, a Argentina terá um novo comando administrativo e ideológico a partir da próxima semana. Em nosso país a transição ocorreu da direita para a esquerda; na Argentina será o contrário. Particularmente por isso, especula-se que os próximos meses estarão sujeitos a fortes emoções, mas não só. Javier Milei, o novo presidente, construiu uma narrativa eleitoral com fortes e polêmicos posicionamentos, como o fechamento do banco central e a dolarização da economia, incluindo outros, nem tanto, típicos da agenda liberal, favorável às privatizações. A folgada diferença de votos que o fez superar o adversário Sergio Massa em praticamente todas as províncias, demonstra claramente o que os números corroboram: ele herda uma Argentina enfraquecida economicamente, à espera de mudanças robustas e radicais que melhorem a condição de vida do país vizinho. Milei, particularmente, carrega também algumas semelhanças com o ex-presidente Jair Bolsonaro, a começar da inexperiência política-administrativa. A solução encontrada inicialmente por Bolsonaro foi se cercar de nomes militares, até se render aos apelos do Centrão em busca de governabilidade. Até agora, Milei faz algo parecido ao emprestar de um governo de direita, comandado por Mauricio Macri, nomes para o seu primeiro escalão. Mas, certamente, em pouco tempo encontra espaço inclusive para os peronistas, pois do contrário suas ideias não sairão do papel. O presidente Lula não acompanhará a posse por duas razões, a primeira objetiva: ele foi atacado verbalmente pelo então candidato Milei, que ainda não se desculpou. A segunda, subjetiva, é que o presidente brasileiro correria o risco de ser hostilizado por simpatizantes de Milei, algo totalmente dispensável para ele. E as relações comerciais entre os dois países, serão afetadas? Provavelmente em nada. A Argentina voltará a ser economicamente forte em pouco tempo? Igualmente, a chance é zero. Quase de 50% da população recebe benefícios sociais atualmente e cortá-los provocaria o caos. Que fará Milei, pegará um bandaneon e entoará um tanto triste? De imediato, inspirar-se em seus mentores ideológicos, fazendo as necessárias correções de conduta e adaptações em sua forte personalidade. E lembrar que n]ao se governa sozinho.
Roberto Lucato
Ilustração: Instagram Javier Milei