A indústria da verdade
Ponto Um
Desde que decidi não me aventurar mais e assistir somente aos filmes já vistos e revistos, sigo garimpando noticiosos e programas com boas entrevistas. E não é que, faz poucos dias, uma escritora deu um show ao expor sua mais recente obra, intitulada “ Consenso Inc- O monopólio da verdade e a indústria da obediência”? Ela se chama Paula Schmitt e, durante a conversa, apresentou inúmeros exemplos que, no mínimo, exigem profundas reflexões. Antes de citá-los, porém, reproduzo a sinopse de seu livro: “Uma mentira repetida mil vezes pode não virar verdade, mas facilmente se torna política pública. Foi assim que multidões em diferentes partes do planeta passaram a acreditar, simultaneamente, que questões identitárias são o maior problema do mundo, e passaram a exigir dos seus governos uma solução que não lhes beneficia, para uma adversidade que não existia. Consenso Inc. é o cartel informal, mas extremamente coeso entre governos, bancos, mídia e grandes monopólios que subverte a realidade e recria um mundo artificial, pavoroso, controlado e extremamente lucrativo. Esse cartel ficou explícito na pandemia. Não foi o acaso que fez a imprensa tradicional ter mensagens tão homogêneas e categóricas. Aquela uniformidade não aconteceu porque a imprensa “seguia a ciência”, mas exatamente porque não o fazia. A prova disso está na unanimidade: só uma narrativa forçada e imposta de cima para baixo consegue ser tão embaraçosamente uníssona”. Uma de suas indagações mais contundentes sobre a “indústria do consenso” questiona, por exemplo, a “eleição” da médica e pesquisadora Margareth Dalcomo e Natalia Pasternak Taschner, uma bióloga e divulgadora científica brasileira, como referências durante a pandemia – pessoalmente incluiria o médico Drauzio Varella também. “Por que só elas falaram nos canais do grupo Globo? Porque atendia aos interesses do consórcio, e do entorno financeiro que o sustenta”. Vale na medicina, vale para o meio-ambiente. Percebe-se sempre os mesmos alarmistas falando sobre os assuntos de sempre, como se individualmente fossemos culpados por algo que pode ser cíclico, vai saber? O alerta é importante e, ressalte-se, não se trata de “negacionismo”. Não há como negar a eficácia das vacinas, tampouco as reviravoltas do clima. Mas o fato é esse, a maneira como aceitamos as verdades que nos são impostas, minando a nossa capacidade de pensar. No jornalismo temos que ouvir o outro lado, e podermos fazer o mesmo em situações cotidianas que contenham enormes interesses comerciais não esclarecidos. Pensar sempre vale a pena.
Roberto Lucato
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