A Europa e o legado Trump

A Europa e o legado Trump

EDITORIAL

Não é necessário entender de política internacional. Qualquer pessoa sabe que, nos Estados Unidos, democratas e republicanos se revezam no poder há décadas. A vantagem é que essa alternância, por um lado, transforma as diretrizes das políticas públicas de oito em oito anos no plano federal, tempo médio no qual os presidentes governam. Donald Trump foi uma rara exceção, e agora tenta derrotar o atual presidente em novo confronto no qual, indicam as pesquisas, está na frente. O problema é que Trump, desde o início de sua gestão, não colocou apenas sua administração em linha com o partido republicano, mas ele radicalizou. Cortou acordos bilaterais, reforçou a fiscalização contra imigrantes e estreitou relações com os russos, para se dizer o mínimo. Foi uma guinada, portanto, radical, e esse movimento incentivou, politicamente, seus pares em diversas partes do planeta. As eleições do parlamento europeu reforçaram, nos últimos dias, essa tendência na União Europeia: o avanço da direita e, especialmente, da direita radical. Segundo o portal G1, “as siglas da extrema direita, lideradas pela francesa Marine Le Pen e pela primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, ampliaram seu espaço, passando de 16,7% para 18,1% de representação no parlamento; o partido ambientalista, uma força tradicional no legislativo europeu, encolheu de 10% para 7% o número de assentos — foi a maior derrota da eleição; a esquerda, formada pelo partido socialista e outras siglas, também teve um leve recuo e passou a representar 23% do parlamento. Na legislatura anterior, o grupo tinha 25% das cadeiras”. Em resumo, os resultados indicaram uma guinada à direita da casa, o que já causou estragos na França com a dissolução do parlamento. Os reflexos na economia foram sentidos até no Brasil, refletidos na alta do dólar, e entre as explicações para a ascensão da direita incluem-se defesa territorial contra os imigrantes e a desaceleração das economias. A alternância do poder não é positiva, o que explica esse temor? O radicalismo dos ultranacionalistas incomoda, como qualquer tipo que represente uma posição extrema, que emerge quando uma situação parece não melhorar nunca. É o que tivemos aqui, na Argentina e em boa parte das democracias. Os eleitores também parecem saber apelar.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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