A dureza de uma avaliação

A dureza de uma avaliação

Ponto Um

Empresto de uma corrida, ou de uma simples caminhada pela cidade, um paralelo para encarar um recomeço. Considerando o óbvio, nas corridas existem pontos de saída e chegada, porque não há nada mais chato que correr em círculos. Prosseguindo, ao determinar o trajeto, o esportista é quem escolhe percorrer por caminhos mais seguros: com menos subidas ou calçadas melhor construídas. Mesmo assim, ele enfrentará a chance de uma chuva passageira, ou pior, a imprudência de algum motorista que coloque sua vida em perigo. Concluindo sua jornada, ele e mais ninguém consegue avaliar, e comparar, o seu desempenho com aquilo que produziu no passado. E aqui reside o grande perigo das passagens de ano: as comparações insensatas. Julgamentos mais rigorosos ou imprecisos quando não levam em consideração os chamados “fatores imponderáveis”. E o que seriam? Na corrida, uma noite mal dormida pode prejudicar o desempenho, igualmente o calor excessivo. Na vida, e especialmente nos tempos de hoje, as pessoas. Quem carrega uma formação clássica, seja do ponto de vista religioso ou simplesmente educacional, enfrenta um período extremamente hostil. E não me refiro à tal “polarização política”, apenas um reflexo da incompreensível disputa por um “lugar de fala”. Um comportamento menos fraternal, empático, mais agressivo e vulgar parece ter contaminado essas duas décadas do novo século. A intolerância – e consequentemente os entraves que produz – está em qualquer canto e qualquer lugar, saltando do mundo virtual – onde está incontrolável – para o trânsito, as escolas, os shoppings centers e para qualquer tipo de aglomeração pública. Portanto, “viver” está se tornando algo cada dia mais difícil, não apenas pela sobrevivência alimentar, pela manutenção habitacional ou pelo enfrentamento financeiro de tantas despesas. Está se tornando árduo pela rudeza com a qual somos  frequentemente tratados. Pelas respostas de mensagens que demoram a chegar, e muitas vezes com a frieza que carregam. Finalmente, pelo “justiçamento” feito a todo instante por (des)conhecidos, parentes ou “colegas”. Para muitos, o permanente enfrentamento dita novos padrões de convivência, que busca privilegiar os mais “fortes”, ousados e exibidos. Portanto, ao avaliar sua “corrida” de 2023, tenha cuidado. Se pertence verdadeiramente à uma geração em busca de solidariedade e harmonia, pegue leve. Estamos na contramão de tudo isso. No  mais, continue assim, e faça planos. Feliz 2024!

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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