A dinâmica da fé

A dinâmica da fé

EDITORIAL

Ao longo dos séculos, o cristianismo passou por diversas transformações, especialmente após o Concílio de Nicéia, promovido pelo imperador Constantino I, possivelmente por insistência de sua esposa. No início do século IV a ideia era discutir aspectos da fé, e como seus fiéis deveriam compreender a divindade de Jesus Cristo como filho de Deus. Somente depois de mil e duzentos deste encontro nasceu um movimento suficientemente forte para contrariar as imposições da igreja, denominado protestantismo. Martinho Lutero, seu fundador, ofereceu novas interpretações da Bíblia e, aproveitando-se a recente invenção de Johannes Gutenberg, não apenas liderou fervorosas pregações como distribui textos traduzidos para o alemão. A história da igreja, portanto, foi sempre enigmática, como seus segredos, relíquias e dogmas, por isso alvo de questionamentos. Celebrar missas na linguagem local é algo recente do ponto de vista histórico, e não há dúvidas que o uso do latim servia para manter os “mistérios da fé” sob o controle do clero – uma das inquietações de Lutero. Porém, se as mudanças do cristianismo, em particular do catolicismo, demoram séculos, os tempos modernos parecem impor desafios mais urgentes. O principal deles, como conter a queda da participação de fiéis nas missas, e mesmo o aumento de membros que resolvem substituir seus doutrinadores. Não se sabe ao certo se essa preocupação ofereceu oportunidade aos cardeais de escolherem o Papa Francisco para conduzi-los, ou se foi obra de Deus, mas o fato é que esse progressista argentino demonstra coragem em propor mudanças, fazer alertas e falar sobre temas surpreendentes, como meio-ambiente. No início de seu pontificado, Francisco sinalizou acolhimento às minorias de gênero, um pouco mais adiante priorizou a juventude e, em um gesto surpreendente, mudou até os rituais previstos para o seu próprio funeral, determinando modelos de simplicidade. Agora, deu um puxão de orelha nos padres, orientando que os sermões se limitem a oito minutos, para que os fiéis “não durmam”. Está corretíssimo também; se um padre não consegue explicar uma passagem do Evangelho neste tempo, provavelmente teve notas baixas no seminário. Padre não é político, não é popstar, portanto não é celebridade, ainda que alguns rejeitem essa ideia. Vida longa ao Santo Padre e suas boas ideias para a modernização da igreja.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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