A difícil arte de largar o osso

A difícil arte de largar o osso

EDITORIAL

O ser humano tem se tornado, nas últimas décadas, protagonista de novidades que ele mesmo cria. Nas relações entre pais e filhos, por exemplo, novas definições e questionamento tentam colocar parâmetros nos abusos psicológicos. Um dos mais recentes trata-se da “alienação parental”, definida assim: “uma interferência psicológica na criança ou adolescente promovida por um dos genitores ou por quem detenha a guarda, que prejudique a formação dos laços afetivos com a outra parte genitora ou seus familiares”. Isso acontecia com muita frequência entre casais em vias de separação, quando um dos cônjuges imputava ao outro suas impressões particulares para obter, do filho, maior adoração em detrimento do esfacelamento moral do outro. Pois algo parecido aconteceu na Venezuela neste domingo, não envolvendo pais e filhos, mas governantes e governados. Como é sabido, o presidente Nicolás Maduro inventou um plebiscito para autorizá-lo a reivindicar – e posteriormente incorporar – parte da Guiana. Como era previsto, segundo o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, órgão controlado pelo governo, a vitória do “sim” vou esmagadora, com 95% dos votos. Mas se isso não chega a ser exatamente uma novidade, a “alienação eleitoral” foi praticada com certo exagero. A Folha de S. Paulo trouxe as cinco indagações feitas à população, das quais destacamos apenas duas que representam o direcionamento das respostas. Vamos a primeira: “Você está de acordo em rechaçar por todos os meios, conforme o direito, a linha imposta fraudulentamente pelo laudo arbitral de Paris de 1899, que pretende nos despojar da Guiana Essequibo?”. Percebam: o “fraudulentamente” não está por acaso na pergunta. A segunda: “Você está de acordo com a posição histórica da Venezuela de não reconhecer a jurisdição da Corte Internacional de Justiça para resolver a controvérsia territorial sobre a Guiana Essequibo?”. O mesmo se aplica à “posição histórica”. Maduro, de fato, não tem e não conhece limites, e ao que parece, a iminente invasão à Guiana – que por sinal nem exército possui – tem menos a ver com a exploração de suas riquezas naturais e mais a ver com uma espécie de “renovação de votos” de Maduro com a população. Consequentemente, com a ditaduras que ele impõe. Com o novo mapa nas mãos, segue Maduro, e o jogo.

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