A desejável direção

A desejável direção

EDITORIAL

Exceção feita à rede Record, por razões óbvias, a cobertura sobre o Conclave ganhará densidade a partir deste meio de semana. Não que os principais portais noticiosos não tenham repercutido o assunto nos últimos dias. Ao contrário. Por pouco, alguns deles só faltaram criar uma bolsa de apostas própria, tal o desejo de despertar em seus telespectadores, indiretamente, uma disputa ideologizada. É compreensível. Parece não haver mais espaço para a neutralidade em tudo o que vemos, lemos e ouvimos ultimamente, mas o comando do rebanho católico não faz parte desse ambiente, por mais que alguns jornalistas queiram insinuar. O que acontece – e certamente acontecerá – é um somatório de fatores que nos leva a acreditar que, por trás dessa importante escolha, existam as mesmas tramas propostas pela dramaturgia. Ou uma disputa acirrada entre progressistas e conservadores. Existem, mas com intensidade diferente. Vamos recordar. Nas duas últimas duas décadas, uma delas teve a aparição frequente do Papa Francisco, generalizando, na internet. E, ao contrário de seu antecessor, de perfil fechado e nada amistoso, Jorge Bergoglio era bem-humorado, sorridente e pronto para demonstrar o seu afeto a qualquer pessoa. Essa imagem acolhedora, nos últimos tempos, se confundiu com uma proposta mais atualizada do Vaticano, como se todos os cardeais, muitos dos quais reclusos na Capela Sistina, pensassem ou agissem com o seu líder espiritual. Pois esse será o principal desafio do sucessor de Pedro: superar as inevitáveis comparações. Quando João Paulo II estava prestes a cumprir seus últimos compromissos como papa, a imagem que ele deixou aos fiéis do mundo todo se relacionou ao sofrimento. Depois de sua partida, poucos mantiveram em mente seus primeiros anos de papado; suas limitações físicas prevaleceram no inconsciente popular. Como observado, Bento XVI não tinha empatia alguma e aqui nasceu o ponto de inflexão: Francisco teve um perfil completamente oposto. De braços abertos. Assim sendo, talvez seja esse o maior desafio para os cardeais: encontrar alguém que, ao mesmo tempo tenha chance – e moderada longevidade – para seguir revitalizando a orientações da igreja enquanto imponha um estilo próprio de levar mensagens inspiradoras. Afinal, como bem destacou D. Odílio Shrerer, o Evangelho é conservador e progressista; não há como particularizá-lo.

Roberto Lucato

Ilustração: Vaticano News

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