Não há informação; há conectividade, somente
EDITORIAL
Profissionais que montaram ou se empregaram em agências de publicidade nos últimos dez anos provavelmente nunca ouviram um noticiário por uma rádio AM. Igualmente, ouvem suas músicas prediletas em suas próprias “playlists”, jamais em emissoras de frequência modulada. Esse grupo provavelmente nunca folheou um jornal impresso e teve acesso a algum conteúdo na TV aberta ao passar pela sala enquanto seus pais assistiam a algum noticiário ou uma partida de futebol. Essas pessoas, criadas no chamado ambiente digital, olham sempre para a frente, jamais para trás, e foram as principais responsáveis pelo enfraquecimento das mídias tradicionais em função disso. Esse grupo compreendeu que ferramentas facilitadoras da propagação de conteúdo são incrivelmente baratas e eficientes quando dirigidas ao público certo, e essa tendência só tende a evoluir. O presidente Lula ganhou sua primeira eleição como tal há mais de vinte anos, portanto, quando o chamado marketing experimentava sua primeira grande mudança. Não é preciso elencar o quanto, nesse período todo, a comunicação promocional ou institucional se alterou. Há pouco tempo, até mesmo os portais de notícias foram substituídos por algo parecido com “newsletters” disparados em redes sociais e atualmente, o domínio das redes, para qualquer político, passou a ser vital. Lula, portanto, foi avisado sobre esse fato e colocou, na secretaria de comunicação do governo, a Secom, Sidônio Palmeira, um especialista. Ele possui status de ministro e não trabalhará para a comunicação do governo, mas do próprio presidente, que enfrenta dias difíceis em praticamente todas as áreas governamentais. Por esse motivo, Lula deu sua primeira guinada e convocou uma coletiva de imprensa, algo que relutava em fazer. Até então, ele apenas verbalizava suas intenções em rápidas aparições em emissoras de rádio, claro, de seus apoiadores. O resultado foi imediato. As respostas do presidente se transformaram em manchetes em toda a mídia e até o chamado mercado financeiro, sempre mal-humorado, reagiu positivamente. Sidônio sabe o que faz, Lula sabe o que quer, mas enquanto a percepção de melhora econômica não tocar a população, isso será insuficiente para melhorar Lula na chamada “fita”. Ah, vêm aí aumentos em cascata com o aumento do diesel. Presidir é difícil, mesmo, principalmente no modo analógico.
Roberto Lucato
Ilustração: Freepik