Telefonemas indesejáveis e insuportáveis
EDITORIAL
A Folha de S. Paulo exibe, em manchete, um número impressionante: o brasileiro recebe mais de um bilhão de mensagens indesejadas todos os meses. Segundo a matéria, “A Anatel (Agência Nacional de Comunicações) entregou ao Cdust (Comitê de Defesa dos Usuários de Serviços de Telecomunicações) um relatório no qual afirma ter bloqueado 184,9 bilhões de chamadas inoportunas na rede monitorada de 26 operadoras entre junho de 2022, quando adotou regras para restringir a prática, e dezembro de 2024. Uma apresentação de prestação de contas ao Cdust mostra que a eficiência das medidas de bloqueio de ligações indesejadas fica em 85%. Os 15% restantes chegam aos usuários de serviços de telecomunicações. As ações que tentam mitigar o problema não impediram uma alta de chamadas abusivas entre 2023 e 2024. O número de ligações importunas bloqueadas pela Anatel subiu de 76,11 bilhões, nos últimos sete meses de 2023, para 82,52 bilhões, nos primeiros sete meses de 2024, sendo que o total de chamadas na rede se manteve no período”. Os números impressionam, mas como um jogo de “liga pontos”, é interessante observar o quanto nossos contatos permanecem expostos, mesmo quando, teoricamente, estaríamos protegidos pela Lei Geral de Proteção de Dados. Especialistas em telecomunicações explicam que, sempre quando existe um vazamento de dados, essas empresas conseguem captar milhões de contatos, mas não para por aí. Há uma clara ineficiência das agências governamentais no sentido de punir as grandes companhias e seus setores de telemarketing. Algumas delas, como Claro, Vivo e Tim, já receberam multas pesadas, mas parece que isso não as inibe de agir. Uma pessoa ouvida na reportagem chegou a dizer que recebe, em média, entre oito e dez ligações diariamente, e revelou algo que muitos de nós experimentamos: como as ligações são feitas por robôs, é quase impossível chegarmos a um pedido formal de cancelamento ou bloqueio. Ou seja, enquanto nossos números estiverem disponíveis, e nós, vivos, teremos que buscar outras ferramentas contra essa verdadeira indústria do abuso. Ah, para lembrar: são as operadores de comunicação que disponibilizam esses números às operadoras desses robôs; ninguém fiscaliza isso?
Roberto Lucato