Etarismo e demais preconceitos

Etarismo e demais preconceitos

EDITORIAL

Jurados, investidos em suas atribuições, tomam ciência de um crime para, após conhecerem evidências e fundamentalmente provas, decidirem se alguém deve ser absolvido ou condenado. Em particular quanto à segunda decisão, se existem atenuantes ou agravantes para que o juiz possa estabelecer, ao final, a aplicação da pena. A internet, faz algum tempo, se transformou em um tribunal permanente, pois as pessoas são julgadas por tudo aquilo que expõe, defendem ou rechaçam, até em pequenas questões. Sergio Chapelin, por exemplo, apareceu nas redes no início da semana para homenagear Léo Batista, pessoa com a qual conviveu por muitos anos na rede Globo. Aos 82 anos, seu estilo não se pareceu nem um pouco com aquele que o notabilizou apresentando o Jornal Nacional: exibindo uma barba branca mal aparada, também estava com cabelos despenteados, longos, presos em forma de rabo de cavalo. A aparição causou surpresa em admiradores, e foi logo elogiado por algumas fãs: “isso se chama liberdade”, disse uma delas. No entanto, talvez por não ter o que fazer, um internauta escreveu: “liberdade nada, isso é velhice e decadência”. Além de extremamente deselegante, esse sujeito tornou o jornalista mais uma vítima do etarismo, algo que tem se tornado cada dia mais normal nessa sociedade doente em que vivemos. Embora, no Brasil, exista o estatuto do idoso, chamar alguém de “velho” ou “decadente” não é um crime; maltratar e abandonar sim, são situações diferentes. É assim que as nações se moldam, se adaptam para não cometer deslizes evitáveis, para se dizer o mínimo. Piadas contadas há trinta anos hoje seriam inadequadas e nesses movimentos contracionistas, que ditaram padrões de condutas mais civilizados, não devemos esperar que tudo seja abraçado de maneira incondicional. As leis só nascem porque os padrões sociais requerem e teremos pela frente um novo embate a partir da posse de Donald Trump: o “anti woke”. Derivada da ideia de “acordar”, a cultura woke refere-se à conscientização sobre justiça social e racial. A senha do novo presidente foi clara: “de hoje em diante teremos apenas homens e mulheres”, e é compreensível que, desde o discurso de posse, ativistas da diversidade estejam preocupados – ainda mais se considerarmos que as principais big techs estejam se aproximando desse novo padrão. Mas, como consolo, é bom lembrar que a humanidade não só avança; todas as nações possuem suas marchas e contramarchas.

Roberto Lucato

Ilustração: Reprodução Instagram Caras

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