Temporada está perdida em Guarujá

Temporada está perdida em Guarujá

EDITORIAL

Há muitos anos – e vamos colocar aqui cinquenta, sessenta –, famílias paulistanas mais abastadas incluíam, entre seus hábitos anuais, passarem os meses de janeiro e fevereiro no Guarujá. Naquele tempo o Litoral Norte era apenas uma faixa litorânea com pouca infraestrutura, inadequado para receber famílias mais numerosas e exigentes. Santos e São Vicente não eram descartados, mas recebiam visitantes economicamente menos favorecidos. Já o chamado Litoral Sul, a partir de Praia Grande até Peruíbe, não era muito diferente do que é hoje, composto predominantemente por casas, pequenos comércios e poucas opções de lazer. Os sucessores daquelas famílias paulistas, na virada do século, decidiram construir uma praia artificial em Bertioga, porta de acesso ao Litoral Norte; depois de um rígido planejamento, em pouco tempo entregaram a conhecida Riviera de São Lourenço, endereço atual da terceira geração daqueles que construíram mansões na Enseada. Ainda vivem, nesta praia, pessoas que ajudaram a erguer os primeiros edifícios de alto padrão, tanto na Mário Ribeiro, em Pitangueiras, como as casas hoje semiabandonadas na Miguel Stefano. Ouvi de um deles, há anos zelador de um edifício, um longo relato, tempos atrás, o qual resumo: “era agradável… recebíamos famílias numerosas; as mulheres traziam empregadas, babás, só deixam a praia depois do carnaval”. De fato. As pessoas mudaram. O Guarujá mudou e experimenta, por conta de sucessivas falhas administrativas, o pior verão de sua história recente. A cidade está às moscas: às praias estão vazias como as barracas e restaurantes. Até o trânsito está calmo. Relatos de moradores descreveram o drama vivido por aqueles que foram vítimas das viroses e o pânico de turistas, assaltados enquanto tomavam sol. Um idoso foi espancado em Pitangueiras, onde se omite o policiamento do governador, que prefere fazer caras e bocas em avenidas mais movimentadas. Lamentavelmente, o Guarujá pode ter recebido sua pá de cal, merecida por seus administradores medíocres; imerecida por sua beleza natural.

Roberto Lucato

Foto: Márcia Lucato

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