Klein e Tião Marino fariam melhor

Klein e Tião Marino fariam melhor

NA GRANDE ÁREA

LEONINOS mais tradicionais gostam de se referir ao acesso de 1978 como a “batalha de Pinhal”. A Inter venceu o Grêmio Pinhalense por 2 a 0, houve muita confusão em campo e somente no ano seguinte se confirmaria a volta da Veterana à então chamada Divisão de Acesso.

SEM POLEMIZAR quanto à melhor formação, o elenco era composto pelos seguintes atletas: Lula, Volmil, Alexandre Pimenta, Klein, Zé Carlos, Juarez, Tornado, Admir Mello, Nestor, Tião Marino, Davi, Caldeira, Carlinhos Biagiolli, Lopes, Pitico, Marquinhos Capivara, Humberto Ramos, Luiz Moraes e Vininho. O técnico era Airton Diogo; posteriormente, Ilzo Neri.

DAQUILO que vi e posso falar, Pimenta e Klein formaram um excelente miolo de zaga, consistente e confiável, por vezes auxiliado por Juarez. Admir Melo foi um craque, Caldeira um perna-de-pau e Marquinhos Capivara, um folclórico velocista. Porém, lá na frente havia alguém que decidia, Tião Marino.

EM 1979 cumpri uma temporada no juvenil do Palmeiras como quarto-zagueiro, deslocado de minha posição original no EC Estudantes, como médio-volante. Ou seja, possuía naquela época a mesma formação “futebolística” que mantenho até hoje: prefiro toques à chutões.

POR ISSO, quando acompanhava meu pai até o recém-inaugurado Limeirão, me incomodava o fato de a Internacional possuir um repertório modesto. É claro que o acesso colocou fogo na torcida, que aplaudia até carrinho dado nas laterais do campo mas, me lembro como se fosse hoje o comportamento dos torcedores, em especial nas cadeiras cativas.

QUANDO JOADIR KLEIN, querido amigo que adotou Limeira como sua cidade, conduzia a bola e ultrapassava a linha divisória, o pedido era um só: “levanta, levanta!”. Os torcedores não se incomodavam com a armação das jogadas; apenas com a velocidade de Marquinhos e com a precisão dos cabeceios de Tião Marino. Isso me deixava profundamente irritado dentro da visão que possuo até hoje, como mencionei.

POR ISSO MESMO três anos depois, em 1982, para comprovar que não estava errado, o mundo se encantou com Zico e companhia até o desastre de Sarriá. Telê Santana estava no Palmeiras em 79, e acompanhei, no antigo Palestra, seus treinos com os profissionais. Inclusive, tive o privilégio de ver uma conversa entre o mestre Telê com o genial Dudu, falecido recentemente.

SEM CONTAR que, naquela época, os “Veteranos do Estudantes” não disputavam partidas nas tardes de sábado: eles davam exibições. E, não raramente, dado a proximidade de seus jogadores com dirigentes leoninos, em especial Richard Drago, era comum que treinadores da Inter jogassem ao lado do meu pai, de Tatão, Paulo Marmo, Paulo Azevedo e tantos outros, tendo Badê como “guarda valas”.

FICAR preso ao passado não é exatamente bom porque, como já dizia o poeta, “tudo passa, tudo passará”, mas vejam como são as coisas. Quando o Barcelona ganhou tudo o que podia e mais um pouco, à partir de 2009, embora tivesse um elenco interessante, Pep Guardiola retomou o toque de bola como forma de jogar. Com a diferença de ser um “toque propositivo”, que inspirou outros treinadores, incluindo Fernando Diniz.

O ERRO de Diniz é que não conseguiu executar, especialmente na seleção, avanços e recuos em blocos, como Guardiola fez no Barcelona e como agora, no City. Os jogadores são treinados para compor pequenos losangos ao longo no jogo de modo a aproximá-los. A matemática explica: quando um adversário faz dupla marcação, por exemplo, ele deixa o vazio de dois para trás. Sobra espaço.

POR ISSO Dorival Júnior jamais dará certo na seleção brasileira. O questionável Tite, aliás, estava quase lá até se render às falsas promessas ofensivas lançadas pelo time olímpico. Voltando ao estilo “posicional”: não é a quantidade de atacantes que determina as chances de gol, mas a construção de jogadas.

NOSSA seleção claramente não faz outra coisa a não ser ficar naquele “melezinho” e empurrar a bola para Vini Júnior resolver. E ele também não faz outra coisa a não ser dar um tapa na bola para seguir até a linha de fundo. Será que não dá para entender que todos já sabem disso?

DORIVAL está desacreditado. Não se impõe diante do elenco porque não tem nada a propor e novamente deu prova que não tem comando. Durante a semana, David Luiz perdeu um pênalti para o Flamengo contra o Atlético. Um analista, flamenguista é claro, fez uma sábia observação: “futebol profissional não é rachão de condomínio ou jogo entre solteiros e casados, onde quem sofre a falta é quem cobra”.

NA  MOSCA. Vinícius não é batedor de pênalti e desperdiçou a chance de vitória contra a Venezuela porque o grupo quis dar uma “força” a ele. Onde está o treinador? Onde está a definição do cobrador oficial? Não existe. Eles jogam de acordo com seus próprios planos.

ALIÁS, Dorival parece uma múmia paralítica, como dizia Agildo Ribeiro. Suas entrevistas são entediantes e suas respostas evasivas: dizer que a seleção mostrou a “alegria do futebol” brasileiro foi demais. Ele sabe que está sendo fritado – alguém ouviu um zum-zum sobre Guardiola?

PRA ENCERRAR, nem um Tião Marino tem a canarinho. Por isso, nem mesmo que o querido Klein voltasse e substituísse Marquinhos, não encontraria ninguém na área para cabecear. Quando um motor apresenta problema nos bicos injetores, não basta trocar as peças; tem que trocar de posto.

COLUNA de hoje é dedicada àqueles que tiveram a chance de se deliciarem com o bom e velho futebol brasileiro, que além de mais técnico, também era mais brigador que o atual. Ótimo final de semana, amigos!

Roberto Lucato

Foto: Acervo AA Internacional

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